Folha de S. Paulo


Chorar as pitangas

Daniel Bueno

A morte da bezerra é um assunto recorrente. De vez em quando, dá um banzo e a gente fica assim, pensando nela. Tem quem pense que é cor de burro quando foge, mas outro dia ouvi dizer que essa não é a expressão correta. Originalmente era "corro de burro quando foge". Taí um bom assunto para ruminar na morte da bezerra -embora matutar sobre qual seja (afinal) a cor do burro na hora da fuga me pareça bem mais divertido.

Chorar pelo leite derramado já é outra história. Eu choro pitangas, mais interessantes. Outro dia, um fulano me disse que só chora descascando cebolas roxas; as brancas ele aguenta. Novidade isso, né?

Mas, falando em cebolas, mais cedo fui à feira e encontrei um burro arisco como corisco. E, como um raio jamais cai duas vezes no mesmo lugar, tive certeza de que a cor dele era justamente a tal da cor de burro quando foge.

Valei-me São Leitão do Porquinho, hoje é dia de inventar provérbios e ditos populares próprios. É mais fácil se você começar com um já existente, como, por exemplo, "Em casa de ferreiro, o espeto é de pau".

Memoriza-se o som e a métrica da frase. Depois é só ir mudando: "Em carro de bombeiro, a viagem é geral", "Pulando o galinheiro, guaxinim é legal" e por aí vai...

Mas, de todos, o melhor é: "Malandro é o gato, que nasceu de bigodes". Seja lá o que isso queira dizer


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