Folha de S. Paulo


Música pra balançar

A música faz uma espécie de massagenzinha na barriga. Todo mundo que já ficou perto de uma caixa de som, onde o barulho é mais forte, sabe disso. Não é só na barriga, mas também nos braços e pernas. Faz a cabeça insistir em balançar, marcando o ritmo, e os pés começarem a se mexer discretamente. Mas aí a música dá uma virada, uma subida e não dá mais pra ser muito discreto: a gente logo começa a dançar de verdade.

Reparem que os adultos (sempre os adultos!) olham para a gente como se fôssemos de outro planeta quando estamos dançando. Os caras vão se esquecendo de como é gostoso balançar. Ficam cheios de dedos e "não me toques" a respeito das músicas e dos ritmos, cheios de "dessa eu não gosto", "onde já se viu menino ouvir funk?", "ah, isso é música de macumbeiro", "não gosto de metal", "isso não é música de criança", "isso é muito pesado"... e por aí vai.

Pura balela de quem já não se lembra de como é gostoso remexer os quadris, inventar dancinhas malucas com os braços, dar passos cada vez mais mirabolantes e, com isso, inventar a melhor coreografia de todos os tempos para sua música favorita -que até pode ser considerada de mau gosto, mas a gente só vai aprendendo a reconhecer o bom com o tempo e com a audição.

Como diria o cantor Jorge Ben Jor (quando ainda era chamado só de Jorge Ben), a música "é pra dançar dançando, é pra dançar dançando".

Daniel Bueno

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