Folha de S. Paulo


Suave na nave

A turma estava de boa na lagoa, suave na nave e tudo foi tranquilo feito grilo. Agora, se grilo fosse realmente tranquilo, não serviria para denominar problema. Talvez fosse melhor esquilo ou crocodilo. Tranquilo feito um esquilo, tranquilo como um crocodilo. Porque, venhamos e convenhamos, quando falamos em tranquilidade, é um crocodilo sonolento que vem à nossa cabeça.

Sonhei que corríamos pelas ladeiras da Pompeia, eu atrás das crianças, gritando para elas pararem nos cruzamentos -é óbvio que elas não paravam. Será que, se surgisse por ali um crocodilo, daqueles grandes, gigantes e tranquilos como esquilos, talvez tudo ficasse bem, de boa na lagoa?

Agora, suave na nave é algo que me preocupa. A nave é interplanetária ou é a nave da igreja? Nave da igreja é aquele espaço que fica entre os assentos e as colunas, por onde vem a noiva, onde geralmente tem um tapete vermelho comprido que parece língua de gigante.

Nave interplanetária, bom, ainda não vi nenhuma ao vivo, só em filme e livro. Então, suave na nave quer dizer o quê? Que a gente entra pé ante pé, suavemente na nave? Ou entra escondido na nave do Darth Vader? Ou que o Darth Vader está lá, tranquilão feito um crocodilão, suavão na nave atrás do Luke Skywalker?

É, essas dúvidas existenciais me atormentam igual bala na agulha ou jujubas num espeto.

Daniel Bueno

Endereço da página: