Folha de S. Paulo


Tataranas

Temporada de taturanas é um deus nos acuda no jardim. Quando vou ver, aquelas plantas das quais eu tinha roubado uma mudinha da vizinha -atenção, esse é o único roubo permitido por esta coluna-, que estavam com as folhas tão lindas e certinha, grandes e viçosas, desaparecem sob buracos cada vez mais largos e vazios.

Esses buracos são feitos por essas minhocas brancas e peludas, feias e assustadoras. Prefiro as taturanas que atacam a casa da dona dos cinco jabutis no caminho da escola. São cor de fogo, combinam com a queimadura que devem causar e dão um contraste lindo com as folhas verdes que lhes servem de comida.

A que causa medo e fascínio é a verde-alface, que ataca principalmente os hibiscos. Reparem só: casa tipo de planta é de uma taturana diferente.

No meu livro favorito, o personagem principal se chama Riobaldo Tatarana. Adivinhem só de onde vem esse nome Pois é, o cara devia queimar como fogo. E, pensando nesse livro, "Grande Sertão Veredas", de Guimarães Rosa, fui pesquisar os nomes dessas lagartas infernais, que azucrinam o Brasil varonil: mandorová, ambira, bicho-cabeludo, lagarta-cabeluda, lagarta-de-fogo.

Tenho amor e asco por essas peludas. São lindas, eu sei, mas me metem medo como dragões em miniatura.

Em tempo: Talvez "Grande Sertão Veredas" seja meio complicado para ler quando a gente é criança, mas guarde a dica pra quando você crescer.

Andrés Sandoval

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