Folha de S. Paulo


Casa formigueiro

Todas as noites, elas teimam em aparecer. Já tentei de tudo para acabar com elas: isca, dedetização, mas as formigas minúsculas continuam firmes e fortes. Até parecem as baratas do Zé Gonzales (que ficam ali nos quadrinhos da "Ilustrada"), que gostam mesmo de inseticida Baratox.

No caso das baratas, eu descobri o melhor repelente: os gatos. Elas viram brinquedo dos bichanos. Mas o nosso problema são mesmo as formigas.

Suspeito que as paredes da nossa casa sejam todas ocas, transformadas num fenomenal formigueiro de que é impossível se livrar. Antes de dormir, olho em cima da pia, embaixo da geladeira, no batente da porta (onde eu já sei que é uma das entradas para o grande mundo das formigas). Mas elas são espertas. Durante essa ronda, não dão um pio, não aparecem, fingem que estão todas mortas.

É só eu apagar a luz que elas atacam, já fiz o teste. E o pior: mesmo que eu volte e acenda as luzes, já não importa -elas ficam por ali, afinal estão no horário delas.

No fundo, tenho simpatia pelas formigas. Aquela fila organizada, a determinação em trazer a comida para o formigueiro, não importa os obstáculos, é impressionante. Outro dia, numa dessas voltas à cozinha, deparei-me com um grão de ração ambulante, vagaroso, mas móvel. Fui olhar de perto, era um bando de formigas levando o treco para dentro do batente da porta.

Ê! Inseto trabalhador esse, hein?

Andrés Sandoval

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