Folha de S. Paulo


Minutos de aflição

Um amigo do Benja, o Felipe, dormiu em casa ontem à noite. Finalmente, por volta das 23h, depois de colocarem o pijama, escovarem os dentes, fazerem xixi e ouvirem uma história, os dois adormeceram -cada um em sua cama, abraçados em seus respectivos bichinhos de pelúcia.

De manhã cedinho, o Benjamim apareceu no meu quarto. Ele acordou, não conseguiu mais dormir e decidiu ficar por lá mesmo.

Pouco depois, acordei com um chorinho suave e soluçante. Olhei para o lado e o Benja estava na cama, quase roncando. Será o Felipe?

Andrés Sandoval
FOLHINHA - ilustração da coluna Cafuné ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

Era. Ele também acordou cedo e estranhou a cama vazia do amigo a seu lado. Olhou pelo buraco da fechadura do meu quarto e não viu nada. Desceu as escadas, entrou em todos os cômodos da casa e foi ficando aflito. Foi até o quintal, mas lá estavam apenas os gatos. Foi ficando ainda mais preocupado, com um aperto no coração. Tentou abrir o portão da rua: "Será que eles foram embora e me esqueceram?". Não conseguiu, subiu as escadas, procurou o telefone e começou a chorar -não aguentou a pressão.

Quando o peguei no colo, meu coração apertou. Foi uma das aflições mais intensas que já presenciei, mesmo que tenha durado apenas alguns minutos. É difícil para um adulto consolar o filho de outra pessoa. Não que sejamos incapazes, mas sabemos que todos os afagos e palavras não substituem o toque de uma mãe ou de um pai.


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