Folha de S. Paulo


Vera Cruz, 50

Fui à festa de 50 anos da escola que frequentei quando criança. Minha vida lá não foi das mais fáceis, eu tinha o péssimo hábito de dormir durante as aulas.

Obviamente que dormir não me fazia o ser mais popular da escola. E, e no final das contas, eu preferia a companhia dos livros à das pessoas.

A biblioteca era o lugar onde me sentia mais à vontade e ainda hoje é assim: livros me confortam e estão sempre ao meu lado.

Uma das coisas boas de crescer é que aprendemos a olhar com menos dor e mais doçura o que aconteceu lá atrás.

Andrés Sandoval
folhinha 4/1 ilustração Cafuné Andrés Sandoval ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

No fervor da emoção, achamos que somos os seres mais infelizes do mundo e que a escola é uma piada de mau gosto do diabo.

Mas na festa, nas conversas e nas lembranças com ex-colegas e professoras, vi que a minha memória foi seletiva -no caso, só para as coisas ruins. E, ao me confrontar com aquelas pessoas tão afetuosas, eu me perguntei onde é que eu estava com a cabeça de não ter aproveitado esse afeto lá atrás, no presente da minha experiência no Vera Cruz.

O sofrimento desse período da vida vem misturado com esse amor e é bem difícil de identificar. Eu não voltaria aos meus tempos de menina, nem morta. Mas, se eu pudesse voltar no tempo, diria para a Clarice de 11 anos: "Sei que, quando dói, a gente só olha para dentro. Mas olhe para os lados, sempre tem alguém estendendo a mão."


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