Folha de S. Paulo


Odeio esses dias

Odeio Dia da Criança. Odeio mesmo.

Também odeio Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Avós e Dia do Cachorro. Odeio Dia da Secretária, Dia do Médico e Dia dos Animais.

Odeio Dia do Palhaço, Dia do Professor e Dia do Bancário. E também Dia do Aluno, Dia do Bedel, Dia do Apresentador de TV e Dia do Padeiro.

Por que existe tanto dia especial? E o dia a dia? Não serve? Não é todo dia o nosso dia? Eu gosto desse dia comum, que não tem presente, não tem rosa, não tem eira nem beira e que, às vezes, tem prosa.

O Dia do Dia a Dia -desses em que a gente acorda e está tudo meio nublado, em que dá preguiça de sair da cama e saudades do calor do lençol.

Mas, mesmo assim, vamos lavar o rosto na água fria, porque o dia começa e a vida chama do lado de fora.

Com um bocejo, vestimos a camiseta. Com um suspiro, amarramos o tênis. E tomamos café com leite, sem leite, com açúcar, bem pretinho, sem açúcar, que é para acordar melhor.

Vamos andando à escola e ao trabalho resmungando. Mas olha só! Já são dez horas, eu já conversei com o meu amigo, já brinquei com o colega, já li uma história boa e... Caramba! Está na hora de almoçar.

Ficar esperando o Dia da Criança? Que nada! Que presente o quê!

O dia comum passa rápido como um corisco, uma faísca. É o dia de hoje que importa. Bom é estar vivo e poder aproveitar.


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