Folha de S. Paulo


As tantas histórias do vôlei

Quantos jogos de vôlei você já viu na vida? Uma vez me perguntaram isso e eu não soube responder com números. Nas brincadeiras com amigos, sempre falo que passei a maior parte da minha vida vendo partidas de vôlei. Trabalho com esse esporte há mais de vinte anos. Naquela época, a geração de prata ainda encantava o país e a geração de Maurício e Tande começava a dar os primeiros passos.

Nos primeiros anos como repórter da Folha, os torneios nacionais eram disputados a cada semana em cidades diferentes. Era uma maratona diária de jogos. Uma média de quatro por dia. Detalhe: eram disputados em 15 pontos e o time só marcava ponto quando sacava. Não era como hoje, em que todo erro é ponto. As partidas eram muito mais longas.

Quando comecei a trabalhar o Bernardinho já estava quase encerrando a carreira de jogador, mas ainda defendia o Bradesco. O time jogava no sistema 4x2, quatro atacantes e dois levantadores. Bernardinho jogava na diagonal do Paulo Roese, um levantador gaúcho talentoso e bem divertido. Vi o técnico Zé Roberto ainda jogar um pouco, como todos os grandes heróis da geração de prata: Renan, Xandó, Montanaro, Bernard, William, Amauri e cia. Também tive a sorte de acompanhar a carreira da Isabel, Vera Mossa, Jaqueline e todas as primeiras musas do vôlei.

Poucos se lembram do Inaldo Manta, técnico da seleção brasileira feminina que morreu no início dos anos 90 e foi revolucionário. Foi com ele que depois de muitos anos o Brasil voltou a vencer o Peru, da craque canhota Cecília Tait. E sabe como ele conseguiu isso? Inaldo também era técnico da Sadia, o timão da época que era base da seleção. Ele contratou Tait pra jogar na sua equipe. Ela passou a treinar junto com as brasileiras e depois disso ficou bem mais fácil jogar contra a peruana. Acabou o fantasma.

Acompanhei toda a trajetória da geração que conquistou o primeiro ouro olímpico para o Brasil. O oposto Marcelo Negrão, com aquela força absurda, era um menininho de 17 anos que muitas vezes virava o centro das atenções nas viagens da seleção pela pureza e ingenuidade. O levantador Maurício era um espetáculo jogando e teve um sucessor também genial, o Ricardinho, que conheci ainda nas categorias de base do Banespa. Jogava com a camisa seis, a mesma do Maurício.

Não sei se o Maurício lembra dessa história: em 89, o Banespa disputou o Mundial de Clubes em Parma, na Itália. Era um timão: tinha Tande, Maurício, Marcelo Negrão e Giovane. Naquela época, a grande novidade na sala de imprensa do torneio era um aparelho chamado fax. Tande e Maurício ficaram muito curiosos e pediram pra conhecer aquela maravilha: bastava colocar o texto datilografado lá e, em instantes, já era reproduzido no Brasil. Tive o prazer de ter apresentado o fax para os dois.

Para quem viu o vôlei brasileiro por tantos anos longe do pódio, é uma maravilha acompanhar as conquistas do vôlei feminino e masculino do Brasil. As gerações do Bruno, do Murilo, da Jaqueline e da Sheilla. O vôlei brasileiro, com Zé Roberto e Bernardinho, dois técnicos geniais, está no paraíso.

Enfim, vivi todas essas histórias sempre trabalhando pela Folha. Primeiro como repórter e nos últimos 19 anos como colunista. A ordem agora é dar um tempo nessa coluna. Vou sentir saudade de todos vocês.


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