Folha de S. Paulo


'Drag queen' que atua na Globo, SBT e RedeTV vira apresentadora na internet

"É o que tem para hoje", diz a mulher negra de peruca chanel loura na cabine do DJ da pista de dança de uma balada gay da Barra Funda. Ela faz graça com o calor da noite de segunda 30º C, que o ar-condicionado não conseguia amansar.

É Silvetty Montilla, tem 47 anos, não nasceu mulher, mas há 27 anos vive de emular uma na noite paulistana. E foi numa boate, fechada para cerca de 40 pessoas (a maioria transexuais, travestis e 'drags') que ela se lançou como apresentadora.

Estreou há duas semanas o reality show de internet "Academia de Drags", em que oito "drags" competem pela aprovação de Silvetty e de jurados.

Mais de 100 mil pessoas viram o primeiro episódio do reality, livremente inspirado no americano "RuPaul's Drag Race" - "A RuPaul [drag americana que já cantou com Lady Gaga e desfilou em Paris] é uma modelo, eu sou uma humorista", distancia a versão nacional.

O humor que sagrou a artista de fato tem pouco de glamour e muito de escracho: em boates como a Loca e a Tunnel, ambas na Bela Vista, Silvetty ganha o público com improviso. Faz piadas fálicas, urra que nem um homem e se auto-avacalha dizendo ser muito rica e usar joias que "valem um apartamento", para depois dizer que comprou tudo com um vale-refeição.

O programa é mais um passo (de salto alto) na carreira. Silvio de Cássio Bernardo já trabalhou com sua personagem no programa "Eliana", do SBT, "TV Fama", da Rede TV!, e "Toma Lá Dá Cá", da Globo. Está no cinema ao lado do global André Bankoff em "Do Lado de Fora". Faz parte do elenco de "Terça Insana", humorístico teatral que chega ao fim em 2014, depois de 13 anos, e de "Sábado Total", da Rede TV!.

A nova produção é a mais barata de todas essas. Custou menos do que um carro popular. A apresentadora e jurados como o estilista Alexandre Herchcovitch não cobram "nem um drinque" para aparecer. "Se for para ganhar dinheiro, é mais para a frente, quando tiver anunciante e todos vão lucrar juntos", diz Montilla.

Enquanto isso, amigos participam na faixa. Marisa Orth aceitou o convite. O ator e diretor Miguel Falabella ligou se convidando para participar da segunda temporada, que "está confirmadíssima", diz o diretor, Alexandre Carvalho.

"Ela é nossa Ana Maria Trava", diz uma participante do reality, fazendo piada com a apresentadora da Globo que contracena com o Louro José. "Ainda vai ser a Hebe drag", diz outra colega, Tchaka, a Rainha das Festas.

Ainda há um longo caminho, mas o cachê já a destaca das colegas: Silvetty ganha R$ 1.200 para uma apresentação de 40 minutos -profissionais de calibre médio tiram uns R$ 200.

Enquanto algumas das damas da noite seguem para o Bar do Chicão, Silvetty se despede de todas com beijos e entra numa perua CRV, que custa por volta de R$ 100 mil.

Uma das colegas menos famosas, já sem peruca, levanta o vestido e anda em direção ao boteco, dizendo: "É o que tem para hoje".

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A ÓPERA AINDA MAIS CARA
Além de gastar de R$ 20 a R$ 100 com ingresso, frequentadores das óperas do Theatro Municipal têm de pagar R$ 5 pelo roteiro do espetáculo, que era grátis até esta temporada. "O valor é simbólico, inferior ao custo de produção", afirma o Municipal, que diz querer "diminuir o desperdício".

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QUALQUER NÚMERO

14.000
Quilos de farinha de trigo branca foram utilizados para fazer as massas, fogaças e sobremesas vendidas na festa de Nossa Senhora Achiropita, na Bela Vista. A organização cogita usar farinha integral em receitas a partir do ano que vem.

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TROCADO ANDA VALENDO OURO
Supermercados e lojas da cidade estão tratando moedas como se fossem notas de cem. O Extra da avenida Ipiranga dá uma caixa de Bis a clientes que levarem R$ 100 em moedas. O Empório Anita, na rua 25 de Março, concede 10% para quem pagar só com dinheiro de metal.

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BAR COM CRISE DE IDENTIDADE
O Noname Boteco, em Pinheiros, pede aos clientes que deixem seu RG ou outro documento de identidade para pegar uma comanda ao entrar, o que é vetado por lei. "Dei barraco e me recusei a ficar lá", diz a advogada Ana Oliva. O bar afirma que a prática, para evitar calotes, é opcional.


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