Folha de S. Paulo


Dobra procura por poços domésticos em SP, que sofre com crise hídrica

A solução para a crise de abastecimento hídrico na cidade está debaixo de seus pés.

É nisso que acreditam paulistanos que decidiram cavar poços em suas casas e prédios para burlar a crise de abastecimento da Sabesp.

Doze empresas do setor dizem que o movimento residencial dobrou desde que começaram a minar notícias sobre a seca no sistema Cantareira e um possível racionamento.

Os preços variam de R$ 7.000 e R$ 100 mil. "Foi divulgar na televisão e o povo se desesperou", diz Andrea Souza, da Sondart. A empresa contou 40
poços residenciais no primeiro semestre do ano.

Carlos Pupo, da Poços Santo Elias, diz que a maioria dos clientes são prédios residenciais. "Um poço consegue suprir o consumo de todos os moradores."

A empresária Ana K. pagou R$ 40 mil pelo poço artesiano que construiu no seu quintal de 400 m2 no Morumbi. "Fiquei com pavor de tomar banho com água do volume morto. Valeu a pena", diz ela, que pede para não ter seu sobrenome divulgado porque não tem todas as licenças necessárias.

É mais fácil achar água no deserto do que conseguir as licenças necessárias, se queixam profissionais. Para ter um poço em casa, é preciso ter aval do Departamento de Águas e Energia Elétrica e consultar a Vigilância Sanitária Municipal, pois há uma lei que dá o órgão a autoridade de "vedar o fornecimento de água para consumo humano por meio de solução alternativa", a não ser em "situação de emergência e intermitência"

É preciso ainda esperar até 180 dias para a Cetesb dizer se a área ao redor da sua casa está contaminada ou não.

"O processo todo leva seis meses, no mínimo", explica o geólogo Carlos Wladimir, da USP. "Mas é necessário, para não pôr em risco a saúde dessas pessoas nem contaminar as águas subterrâneas que são de todos."

"Há uma defasagem relativamente grande entre a observação da necessidade e a implantação",diz Adriano Silva Fernandes, da DH Águas, em que a procura também aumentou, o que ainda não se traduziu em números.

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QUALQUER NÚMERO

300%
Foi o aumento de pacientes em consultórios de otorrinolaringologistas nos últimos três meses, diz a associação do setor, que atribui a escalada ao ar seco. "As dicas para amainar os sintomas da secura são: tomar água e colocar uma bacia com água no canto do quarto", diz o médico Ruy Dias.

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PAULISTA OCULTA

A artista Sonia Guggisberg gastou um ano e meio negociando para entrar em algumas das 22 galerias subterrâneas que se escondem embaixo da avenida Paulista desde que a via foi alargada, há 60 anos, e o subsolo dos prédios destruídos foi inutilizado. "Eu tinha interesse político em mostrar esses espaços abandonados, acho que a arte gera documentos." Conseguiu fazer uma só visita, que rendeu um documentário e busca patrocínio para também fazer dele um livro.

DO JEITO QUE ESTÁ FICA

A empresa que reprojetou a avenida na década de 1960 desistiu hoje em dia de implementar o modelo original, com faixas subterrâneas para os carros e pedestres nas atuais vias. "Agora ficou muito caro. Eu gostaria muito de fazer, mas a cidade tem outras prioridades", diz João Antonio del Nero. vice-presidente da Figueiredo Ferraz, que se encontrou com prefeitos como Marta Suplicy (PT) para tentar convencê-los da ideia.

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FOTO DE PERFIL

Cuidado, Marcela Tiboni está armada! A artista plástica de 32 anos constroi há um ano um arsenal. "São armas com formato e cara de brinquedo. Mas estão carregadas com pólvora", conta ela. Quem for à exposição, na Central Galeria (rua Mourato Coelho, 751), até 9 de agosto, poderá fazer "o que quiser com elas, menos levar para casa". "É uma provocação, da qual não tenho controle."


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