Folha de S. Paulo


Economistas podem oferecer alguma saída que seja aprovada nas urnas?

Joel Rodrigues/Folhapress
Urnas usadas nas eleições de 2014
Urnas usadas nas eleições de 2014

Em entrevista a esta Folha na última terça-feira, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga declarou que teme que o período dos governos FHC e Lula-1 tenham sido excepcionalmente bons, e que o "normal" do Brasil seja esta bagunça que vemos hoje. O que Samuel Pessôa chama de período "Malocci" (Malan + Palocci) teria sido só um intervalo de lucidez, que passou.

Não é uma tese absurda.

FHC venceu em 1994 com um programa de modernização econômica, no primeiro turno. Mas foi uma eleição claramente excepcional: o que precisava ser feito para restaurar o equilíbrio macroeconômico (derrotar a hiperinflação) era popular. Era, aliás, exatamente o que precisava ser feito para combater a pobreza e a desigualdade.

Lula redistribuiu renda e manteve a gestão econômica responsável, mas foi beneficiado por um cenário externo favorável e pela existência de "frutos no galho baixo" na política social: políticas baratas, eficazes e populares que ainda não haviam sido implementadas.

Durante o governo Dilma já não havia nada disso. O equilíbrio econômico agora dependia de cortes de gastos impopulares. O cenário externo não era mais favorável. E as políticas sociais restantes eram mais caras e de implementação mais complexa do que o pacote do governo Lula. Dilma tentou encontrar uma saída sem ajuste fiscal, sem fazer nada impopular, e o resultado foi aquela beleza que todos vimos.

E houve a gambiarra do impeachment, que está fazendo reformas sem as concessões que uma vitória eleitoral exigiria.

Isto é, ainda não conseguimos montar um arranjo que concilie as demandas eleitorais de um país desigual com reformas que favoreceriam o crescimento econômico. Seria essa incapacidade endêmica, seria ela nosso "normal"?

Acho que não.

A crise atual não é "normal" coisa nenhuma. As coisas estão desabando, e estamos claramente em transição para alguma coisa.

Há quem defenda que mudemos a política brasileira para reduzir as chances de participação política que existiram até agora. A proposta de parlamentarismo, tal como apresentada agora, é uma tentativa muito mal disfarçada de aumentar o poder da parte do sistema político que a esquerda nunca conseguiu ganhar. O risco de populismo, ou de qualquer coisa de esquerda que se queira chamar assim, seria evitado pela redução da pressão popular sobre o poder político.

Mas antes de aceitar que temos que escolher entre isso e populismo, talvez seja o caso de devolver a questão a Armínio Fraga: o que os economistas podem nos oferecer como saída que tenha chance de ser aprovado nas urnas? Garanto que não é só a esquerda que quer saber.

A resposta tem que ser dada falando para o seguinte indivíduo: um (a) brasileiro pobre, com pouca qualificação profissional e (por ter pouca qualificação) pouco poder de barganha em negociações trabalhistas. Se ele ceder na reforma trabalhista, se ele aceitar trabalhar mais dez anos antes de se aposentar, em quanto o crescimento brasileiro será maior, e o quanto desse crescimento vai para o bolso dele? Afinal, não há a menor garantia de que o padrão dos anos 2000, em que o crescimento foi pró-pobre, seja o nosso normal.

Não há João Santana neste mundo que seja capaz de derrubar quem tiver uma resposta para isso em 2018.


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