Folha de S. Paulo


Rede gostaria, mas não há terceira via em impeachment

Alan Marques - 15.jan.2016/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 15.01.2016. A ex-senadora Marina Silva dá entrevista na sede da Rede, no Setor de Diversões Sul. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER *** ESPECIAL FIM DE SEMANA ***
Marina Silva, líder da Rede

A Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, teve meses difíceis durante a guerra de 2015-2016. Impeachment só tem dois lados, o do presidente e o do vice-presidente. A Rede gostaria de ser uma terceira via, e não há terceira via em impeachment.

O partido parecia bem posicionado para ganhar eleições quando PT e PSDB enfraquecessem um ao outro. Mas, para azar dos sustentabilistas, a briga não durou até as eleições. Se nas urnas Marina tinha boas chances, no conchavo parlamentar o PMDB era imbatível.

A polarização extrema dos últimos anos foi péssima para os planos da Rede. O partido deveria ser um ponto de reunião dos desiludidos com o PT com o que sobrou de centro-esquerda no PSDB. O impeachment trancou todos onde estavam: mesmo esquerdistas que haviam se afastado do PT voltaram para defendê-lo contra a aliança conservadora. E os tucanos marcharam, sem dissidências, com os conservadores contra o PT.

A Rede apoiou o impeachment, mas liberou o voto dos parlamentares. Marina Silva aderiu ao "Fora Dilma", talvez pelos ataques do PT na campanha de 2014, talvez em respeito a seus eleitores conservadores. Mas a maioria dos parlamentares da Rede veio da esquerda. Abandonaram o PT, em boa parte, por não aguentar mais o custo ético de se aliar à mesma turma que acaba de conquistar a presidência. Alessandro Molon saiu do PT por discordar da promiscuidade entre PT e PMDB no Rio; deveria ter votado em Temer? Mas tudo isso é complexo demais para 2016, e os sustentabilistas acabaram ficando mal com os dois lados.

O triste é que o partido começou a crise acertando mais que todo mundo (mais do que eu, por exemplo): pedindo novas eleições. Era o que defendiam 60% dos brasileiros. Mas os 11% que aprovavam Dilma não compraram a tese enquanto era tempo; e os 14% de Temer têm Gilmar Mendes no TSE. A disputa em 2016 se deu entre esses dois candidatos que, somados, não teriam votos para ir ao segundo turno em 2014.

Agora o desafio da Rede é tentar convencer os 60% dos eleitores que queriam novas eleições de que estava com eles quando foram abandonados.

O PMDB sabe que isso pode dar certo, e seus puxa-sacos começaram a bombardear Marina logo depois do afastamento de Dilma. O Movimento Brasil Livre foi às redes sociais dizer "nós não fizemos tudo isso para vocês votarem na Marina". Os novos chapas-branca passaram a defender que novas eleições é que seriam golpe. Como já dito aqui, golpe é sempre o dos outros.

Enfim, resta saber se a Rede saberá reconquistar os apoios sequestrados pela polarização. Pode fazer uma abertura para a ala do PT que defendeu novas eleições. Pode também ser um refúgio para tucanos que venham a descobrir que o governo que acabam de instalar quer fazer um "acordão". Ao que parece, essa intenção era completamente impossível de deduzir dos áudios de Romero Jucá ou das declarações de Gilmar Mendes, e só foi revelada na votação da inelegibilidade de Dilma.

Acordão, vejam só, também é sempre o dos outros.

De qualquer modo, se a polarização do impeachment tiver acabado com as chances da Rede e de outras iniciativas similares, a turma conservadora que articulou a derrubada de Dilma Rousseff pode ter destruído a única coisa que realmente seria, para o PT, o fim: um substituto.


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