Folha de S. Paulo


Mundo Econômico

PANORAMA MUNDO

A decisão de manutenção da taxa básica de juros americana entre 0 e 0,25% na última reunião do Fed (Federal Reserve, banco central americano) se apoiou principalmente na instabilidade dos mercados emergentes e na dificuldade que Europa e China têm de crescer e combater a deflação. Ambas as economias estão tomando medidas para reverter a situação, favorecendo um aumento da taxa de juros americana em dezembro.

Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, disse na semana passada que reduzirá as taxas de depósito exigidas e que reiniciará o programa de compra de títulos pelo banco em dezembro até que a inflação acelere para níveis desejáveis. O anúncio das medidas ocorreu após a divulgação do resultado deflacionário de setembro, que ante o mesmo mês do ano anterior apresentou deflação de 0,1%.

Já o banco central chinês anunciou o corte da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 4,35%, visando estimular principalmente o consumo. Paralelamente, o governo vai reduzir em 0,5% a reserva obrigatória dos bancos, o que resultará em uma maior concessão de crédito pelos bancos.

Entretanto, no caso chinês as medidas não eram inesperadas. Esse é o sexto corte consecutivo da taxa básica de juros chinesa neste ano, o que não impediu a China de crescer pouco menos do que o esperado. A meta do governo era uma expansão de 7% do PIB, e, segundo estimativas —cujas credibilidades muitas vezes são contestadas—, deverá alcançar apenas 6,9%.

Michael McDonough, diretor global de pesquisa econômica da Bloomberg, afirma que a taxa de crescimento do crédito chinês, quando se considera também o crédito dos governos locais, é positiva, indicando que a desaceleração do crescimento chinês pode ter chegado ao fim, iniciando nova fase de expansão.

Com perspectivas de menor volatilidade nos mercados de capitais e retomada de crescimento tanto na Europa como na China, a importância de fatores externos para a determinação da taxa de juros americana é menor e maior atenção será dada para os dados da economia americana divulgados até dezembro.

PANORAMA BRASIL

Na última semana (18 a 25 de outubro), alguns dados econômicos foram divulgados, demonstrando a má fase vivida pela economia brasileira. O governo brasileiro estimou um deficit primário de cerca de R$ 50 bilhões para 2015, que, incluindo o pagamento ainda neste ano das 'pedaladas fiscais' de 2014, chegaria a quase R$ 90 bilhões.

As previsões do mercado para a inflação desse ano, por sua vez, subiram mais uma vez. Segundo o relatório Focus da última segunda (19), o IPCA deve fechar o ano em 9,75%, enquanto a mediana das projeções do IPCA em 12 meses (então para setembro de 2016) subiu de 6,27% para 6,5%.

A elevação da expectativa de inflação se deve em parte à reunião da última quarta-feira do Copom (Comitê de Política Monetária), que decidiu manter a taxa de juros básica da economia, a Selic, em 14,25%. Além disso, o Copom divulgou o aumento do prazo para a convergência da inflação para a sua meta —que é de 4,5%— de dezembro de 2016 para 2017, não especificando exatamente o período final.

Economistas do setor privado enxergam na maior complacência do Copom em relação à inflação um cenário de dominância fiscal. O termo é utilizado para descrever uma situação em que as finanças públicas, em mau estado, impõem um limite à política monetária para controlar a inflação.

O que basicamente significa que elevar os juros para conter a inflação gerará uma queda no PIB tal que a arrecadação do governo cairia a níveis que tornariam a dívida pública insolvente, o que forçaria o governo eventualmente a afrouxar a política monetária, elevando a inflação.

Já o BC afirma que não há e nunca houve no Brasil uma situação de dominância fiscal e que a mudança na estratégia se deve para acomodar nas expectativas os efeitos inflacionários que o ajuste fiscal deverá. O ajuste fiscal gerará pressões inflacionárias na medida em que for realizado por aumento de impostos, como a CPMF, exigindo o reajuste de tarifas públicas e preços na economia.

Enquanto a inflação sobe, a atividade cai. As estimativas para o PIB pioraram tanto para este ano como para o próximo. A previsão para 2015 saiu de queda de 2,97% para uma retração de 3% enquanto a de 2016 foi de menos 1% a menos 1,22%.

Além disso, o acumulado do ano no mercado de trabalho de fechamento de 657 mil postos de trabalho, o pior resultado em 13 anos, demonstrando o efeito da crise no nível do desemprego brasileiro.

Post em parceria com Luiz Henrique Souza, graduando em economia pela Fundação Getúlio Vargas e trainee pela Consultoria Júnior de Economia


Endereço da página: