Folha de S. Paulo


Usar mesada como recompensa é risco para a formação dos seus filhos

Lidar com dinheiro da melhor forma é um aprendizado constante para adultos. Em meio a tropeços, impulsos e dívidas ao longo da vida, muitos pais se sentem desafiados na hora de ensinar educação financeira aos filhos. Afinal, se quem tem maturidade já enfrenta dificuldades para evitar os erros com o próprio dinheiro, ensinar o caminho correto aos filhos não é tarefa simples.

Você já deve ter visto ou ouvido falar a respeito de uma "planilha educativa" que viralizou na internet em 2013. Um casal que mora em Rondônia resolveu adotar uma estratégia diferente para dar a mesada aos dois filhos, de 6 e 8 anos, respectivamente.

A ideia foi montar uma planilha com uma lista de penalidades financeiras que as crianças estariam sujeitas em caso de desobediência ou mau comportamento. A mesada dos dois era de R$ 50, mas atitudes como fazer refeições fora da mesa, reclamar para ir à escola ou desobedecer os pais poderiam render descontos de R$ 0,25 a R$ 3,00. Ao final do mês, a quantia real da mesada ia depender da quantidade de punições, ou seja, quanto melhor o comportamento, maior a mesada.

Em psicologia comportamental, a prática é bem conhecida e chamada de estímulo-resposta. A cada tarefa concluída, a criança recebe uma recompensa. No exemplo dado, cada atitude de bom comportamento representa maior possibilidade da mesada integral. A técnica pode até ter eficácia para ter crianças muito bem comportadas em casa, mas será que esse tipo de didática realmente vale a pena?

O resultado imediato pode ser suficiente para convencer outros pais de que o método é interessante, mas é preciso analisar a questão pelo lado crítico. O grande problema desse tipo de ensino é o risco de as crianças assimilarem bons valores, obrigações e comportamento adequado a recompensas. E se a mesada, fator de motivação de tudo isso, for retirada? Como prever qual será o comportamento das crianças diante de tarefas básicas se não houver dinheiro no começo do mês?

Bom comportamento é uma questão de princípios, a criança não pode esperar uma recompensa por isso. Se essa mensagem é a que fica impressa ao longo de sua formação, como adulta, ela desejará ser recompensada por qualquer atitude positiva que tenha em sociedade.

A mesada deve ser pensada como forma de mostrar aos pequenos as primeiras noções sobre orçamento, controle de despesas, comparações entre aquilo que é caro e o que é barato, o que é necessário e o que é supérfluo. Distribuir recompensas pode ser uma forma de incentivo em algumas situações, mas transformar isso em regra para tudo é um risco muito grande a longo prazo.


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