Folha de S. Paulo


As novas classificações de fundos facilitam a vida do investidor?

Escolher ou acompanhar o desempenho de um fundo de investimento pode ser uma tarefa desafiadora. Se, por um lado, os fundos oferecem diversificação para o seu dinheiro de um modo mais prático, de outro, é preciso lidar com a complexidade do investimento e com uma transparência que pode parecer confusa.

De um modo geral, a nova classificação da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais), que vale a partir do mês que vem, categoriza os fundos em três etapas: a classe de ativos (renda fixa, variável etc.), o tipo de gestão (passiva ou ativa) e a estratégia de investimento, que vai definir em quanto tempo a pessoa pode ter o retorno do dinheiro.

Quanto à questão da tomada de risco, no entanto, a nova classificação pode gerar ambiguidade.

Por exemplo, na classe de ativos não transparece efetivamente o risco. Na renda fixa, o gestor pode alocar em ativos de baixo risco, como títulos públicos e dívida de empresas com baixo risco, assim como em papéis de emissores com capacidade de crédito e, com isso, risco altíssimo. Há uma diferença muito grande entre emprestar o dinheiro para uma companhia com capacidade de honrar seus compromissos e para outra completamente quebrada.

Para piorar, muitas vezes, o mercado secundário dos títulos não é líquido, o que faz com que as cotas diárias não traduzam efetivamente o risco durante a vida do papel.

Fica difícil saber, às vésperas do vencimento, se a empresa terá condições de arcar com o compromisso ou se um calote é iminente -muitos percebem o problema apenas na hora do calote, incorrendo em significativas perdas.

Neste sentido, as novas classificações de fundos ficaram complexas e pouco inteligíveis para o investidor. O excesso de especificidade de cada fundo pode gerar mais confusão do que esclarecimento e esquece do principal aspecto.

O investidor de fundos de investimento acaba lidando com mais um entrave. Além de ter de lidar com uma caixa-preta (pela falta de clareza total a respeito dos riscos), ele precisa arcar com taxas de administração, um fator que torna o investimento ainda mais desinteressante e que acaba dando espaço para outros instrumentos no mercado, como os títulos públicos por meio do Tesouro Direto e os CDBs.

No fim das contas, quem aplica em fundos de investimento precisará manter a atenção redobrada, tendo em vista que a nova classificação não simplifica tanto assim a vida do investidor e esquece de traduzir o principal relação das finanças: a relação entre risco e retorno.


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