Folha de S. Paulo


O medo de perder

Renda fixa ou variável, o que você prefere? Correr o risco de perder R$ 100 para ganhar R$ 1.000, ou ganhar R$ 500 garantidos? Se você é como a maioria dos brasileiros, é mais provável que você tenha uma postura conservadora na hora de investir, e opte pela renda fixa e pelos R$ 500.

Isso é o que os economistas comportamentais chamam de aversão ao risco —e é o que explica por que a poupança continua sendo a aplicação preferida no Brasil, mesmo com opções tão seguras quanto a caderneta e com rendimentos reais. Nós preferimos ganhar menos e arriscar menos do que correr grandes chances para poder ter uma bolada.

Mas não é só isso: nós sofremos mais quando perdemos algo do que quando ganhamos um bem de mesmo valor. Se a sua carteira de ações cai 10%, o grau do seu sofrimento é muito maior do que a sua alegria quando ela sobe os mesmos 10%.

Na teoria, o nível de emoção deveria ser o mesmo, mas nunca é: funciona como perder o ingresso para um show da sua banda preferida —a sua tristeza é muito maior do que a alegria de quando comprou os ingressos.

Outro efeito da aversão ao risco é que, com ela, tendemos a supervalorizar aquilo que já temos. Por exemplo, sua casa. O apartamento reformado para se adequar ao seu estilo de vida, decorado a seu gosto e com todas as memórias de uma família vale mais para quem vende do que para quem compra. Afinal, quem é que não vai gostar daquilo que você fez com tanto amor e que trouxe tantas alegrias?

Mas para alguém que está querendo comprar um imóvel, esse apartamento pode ser igual a tantos outros, e a reforma pode não refletir o que ele procura para ser sua casa. Ou seja: você quer vender a R$ 500 mil, mas ele só topa pagar R$ 400 mil. A diferença de preços pode ser explicada justamente pela aversão de risco: você precisa ganhar um "prêmio" para se desfazer de algo que ama —enquanto o seu comprador não.

Se você se reconhece neste perfil, saiba que não está sozinho. A aversão ao risco é comum à maioria dos mortais. E na hora de procurar um investimento, saiba reconhecer que esse pode ser um fator a influenciar a escolha da aplicação. Se você sofre mais na hora de perder do que vibra na hora de ganhar, talvez mercados mais arriscados não sejam a sua praia.

Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)


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