Folha de S. Paulo


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Na semana passada, o mundo foi tomado por uma grande expectativa em torno da reunião que seria realizada pelo Fomc (comitê de política monetária do banco central americano) na quinta feira (17). O comitê se reuniu por dois dias para decidir sobre uma possível elevação dos juros, no primeiro aumento desde 2006.

Os juros estão sendo mantidos no piso histórico, na banda entre 0% e 0,25%, desde a crise financeira global de 2008. Naquele momento, a redução foi feita com o objetivo de dar fôlego à economia e impulsionar o crescimento. Em 2015, contudo, as principais economias mundiais estão em crescimento, inclusive os Estados Unidos.

Isso fez com que o Fed discutisse um aumento na taxa de juros. Uma elevação combateria pressões inflacionárias dentro dos EUA. A expectativa em torno da reunião deixou os emergentes em estado de atenção. Uma alta da taxa aumentaria a atratividade de investimentos financeiros nos Estados Unidos, provocando uma fuga de capital nesses países.

Para economias já desestabilizadas ou em crise, como a do Brasil, uma diminuição drástica dos financiamentos estrangeiros poderia causar problemas adicionais de financiamento do deficit público. Adicionalmente, uma desaceleração do crescimento da economia nos Estados Unidos por causa da elevação das taxas de juros teria reflexos negativos para as taxas de crescimento no mundo todo.

Na quinta feira à tarde foi anunciada a decisão: a taxa básica de juros seria mantida no patamar próximo a zero. O aumento foi adiado. As principais razões foram que o governo americano quer evitar uma valorização ainda maior do dólar frente a outras moedas, o que diminuiria a competitividade das empresas americanas no mercado mundial.

Some-se a isso o medo de uma desaceleração da economia mundial em consequência das incertezas sobre o mercado Chinês, após a queda da Bolsa de valores chinesa na semana passada.

No entanto, muitos acreditam que um aumento de juros pode ocorrer ainda em 2015. Ainda serão realizadas duas reuniões do Fomc neste ano, uma no final de outubro e outra no meio de dezembro para discutir esse assunto.

PANORAMA BRASIL

Esperava-se que o aumento da taxa de juros nos EUA fosse valorizar ainda mais o dólar em relação ao real. No entanto, apesar de a taxa ter sido mantida inalterada nos Estados Unidos, o dólar atingiu o valor de R$ 3,90 no final da semana passada, valor mais elevado desde o início deste século.

Esse é um dos indicativos de que a economia brasileira não vai bem. O PIB deve se contrair em 2,3% em 2015. As taxas de desemprego estão crescendo e o consumo se retraindo. As contas públicas estão desequilibradas e o governo tem grandes dificuldades de financiar os gastos correntes. Nesse contexto, o governo busca equilibrar os cofres.

Após previsões negativas quanto ao fechamento de 2016, ficou ainda mais evidente a necessidade de se cortar gastos públicos e aumentar a arrecadação. Em meio a essa crise fiscal, o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apresentou um novo pacote de medidas para promover o ajuste fiscal. A Junta Orçamentária —composta pela Casa Civil, Levy e Nelson Barbosa (Planejamento)— tem feito discussões para concluir o pacote.

São nove as medidas propostas no último pacote apresentado: adiamento do reajuste dos servidores públicos, suspensão de concursos públicos federais, eliminação do abono de permanência, projeto sobre teto de remuneração dos servidores públicos, redução de gastos com cargos administrativos, cortes no programa Minha Casa, Minha Vida, no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), na área da saúde e no programa de subvenção de preços agrícolas.

No total, são previstos cortes de R$ 26 bilhões no Orçamento de 2016. Além disso, o governo está estudando a reinstituição da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), imposto extinto em 2007, para cobrir os gastos com a Previdência Social. Inicialmente, a alíquota proposta seria de 0,2%, mas já há discussões sobre um eventual aumento da alíquota para 0,38%. O imposto seria instituído por quatro anos e incidiria sobre todas as transações financeiras.

O governo pretende, com essas medidas, reverter a previsão apresentada no último mês de um deficit primário de 0,5% do PIB para 2016, atingindo um superavit de 0,7%. O pacote tem causado polêmicas e discussões uma vez que promove cortes em programas sociais e aumento de impostos. Medidas como essas não são bem-vistas pela maioria da população e até mesmo por membros do Parlamento.

Por isso, podem encontrar dificuldade em ser aprovadas no Congresso. Teme-se também que o rombo nas contas públicas seja maior do que o anunciado até o momento, tornando essas medidas insuficientes.

Post em parceria com Yasmin Rodrigues Hund, graduanda em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultora pela Consultoria Junior de Economia


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