Folha de S. Paulo


O reflexo brasileiro de 2008

O desempenho da economia brasileira tem sido foco de muita discussão atualmente. Alguns muito pessimistas dizem que o Brasil não tem jeito e que se faz necessária uma reforma urgente. Outros dizem que está tudo bem e culpam outros países pela atual situação econômica brasileira. Mas o que precisa de fato ser entendido é como o Brasil enfrentou a "marolinha" de 2008 e quais estão sendo seus impactos nos dias atuais.

Como muitos sabem, em 2008 o mundo todo sofreu com a crise provocada pela bolha imobiliária no mercado americano, crise essa que influencia ainda hoje a vida de muitos ao redor do mundo. Os próprios Estados Unidos estão se recuperando ainda da situação que atingiu seu ápice em 2008.

O desempenho brasileiro após a crise pode ser entendido como satisfatório em um primeiro momento, mas o fato é que o Brasil só não foi fortemente impactado pela crise no mesmo período que os outros países devido à política expansionista adotada naquele momento, incentivando o consumo via juros baixos e mantendo a inflação sobre controle.

No entanto, essa situação se torna insustentável por muito tempo, e em algum momento temos que voltar a trajetória de crescimento de longo prazo. O que se vê para voltar a essa trajetória são juros altos e inflação, justamente o que vivenciamos atualmente.

Analisando a renda per capita brasileira, essa situação pode ser comprovada. Desde 2008, a renda média do brasileiro só aumentou até 2011, impulsionada pela política de consumo no Brasil e pelo crescimento da China. A partir daí, viu-se apenas decréscimo, mostrando sua insustentabilidade a longo prazo.

Samy Dana

A situação fica ainda pior quando analisamos comparativamente alguns países ao redor do mundo. Enquanto em 2014 a renda média do brasileiro foi de US$ 11 mil, um italiano médio ganhava cerca de US$ 40 mil e a renda media de um japonês ficava em US$ 38 mil.

Mas não é só no quesito renda que o Brasil fica para trás. Enquanto no Brasil a idade média é de 30,7 anos, no Japão é de 46,1 e na Itália de 33,6, mostrando o quão jovem o Brasil está em relação ao amadurecimento de sua população.

A renda e idade médias trazem também outras implicações, principalmente na educação. Num ranking produzido pelo World Economic Forum e que avalia a quantidade de crianças com acesso à educação e à qualidade do ensino, o Brasil é o pior dos três. Numa escala de 0 a 7, o Brasil obteve uma nota de 5,7, ficando na 77ª colocação entre os países analisados. O Japão ficou em 6º lugar (com 6,6 pontos), e a Itália em 22º (com 6,4 pontos).

Tudo isso se reflete no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que agrega informações sobre educação, saúde e renda de cada país. Neste ranking, o Brasil novamente é o pior dos três países analisados, com pontuação de 0,744 (o ranking têm uma escala que varia entre 0 e 1), ocupando a 79ª posição ao redor do mundo, enquanto a Itália ocupa a 26ª com 0,872 ponto e o Japão é o 17º colocado, com 0,890 ponto.

Sobre tributação, a BBC fez um levantamento medindo o quanto da renda é destinado a impostos, direta ou indiretamente. O resultado foi que o Brasil situou-se como o pior colocado entre todos os analisados, com 73% de impostos em toda a cadeia, enquanto o Japão acumula 58% e a Itália, 50,6%.

A saída para tanto passa primeiro pelo aumento da renda, o que se dá via aumento da produtividade. O trabalhador brasileiro é tão pouco produtivo, que equivale a apenas um terço do que um japonês ou italiano, por exemplo, conseguem produzir. Isso inevitavelmente se reflete nos salários e no poder de compra. O aumento da produtividade só ocorre via aumento nos investimentos, o que, por sua vez, depende de um ambiente favorável e atrativo.

Com isso, vemos o quão jovem o Brasil está no seu processo de crescimento, tendo que melhorar em vários aspectos, principalmente na educação e tributação. Além disso, o atual estágio econômico se encaixaria mais como um reflexo das decisões passadas, devendo ser reajustadas para uma trajetória de crescimento de longo prazo.

Post em parceria com Hermes Sampaio, graduando em economia pela Fundação Getúlio Vargas e diretor da Consultoria Junior de Economia


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