Folha de S. Paulo


Mundo Econômico

PANORAMA MUNDO

Após diminuírem as maiores preocupações em relação à Bolsa chinesa —devido à desvalorização competitiva da moeda de alguns países, medida inibida no G20 em Ancara (Turquia)— e depois da redução da alavancagem dos mercados chineses, assegurada pelo departamento internacional do Banco Popular da China, o olhar do mundo se volta novamente à possível elevação da taxa de juros americana no próximo dia 17.

Neste dia, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vai se reunir para decidir se elevará ou não a taxa de juros pela primeira vez em nove anos. A taxa de juros americana tem diversas implicações para o mundo.

A elevação da taxa tornaria ativos financeiros denominados em dólares mais rentáveis, fazendo com que investidores tirassem os seus recursos de países emergentes para reaplicar o dinheiro em ativos americanos.

Esse fluxo de capitais para os Estados Unidos valorizaria o dólar em relação à moeda dos países emergentes. Ou seja, em primeira instância os países emergentes —como o Brasil— teriam uma moeda mais fraca ante o dólar e menos capital externo. O dólar valorizado prejudicaria a competitividade das exportações americanas.

Internamente, a elevação da taxa de juros encareceria o crédito, hipotecas e dívidas, reforçando o incentivo para que os americanos poupem, mas também prejudicando o consumo das famílias, reduzindo a demanda agregada e, por consequência, a inflação.

As metas do Fed são a estabilidade de preços, pleno emprego e estabilidade financeira, o que se traduz em uma meta da taxa de inflação de 2% ao ano e um nível de desemprego estável em 5%.

Entre os contrários à elevação da taxa de juros há nomes influentes como Lawrence Summers, Bill Gross e Christine Lagarde.

As principais preocupações deles são que juros maiores acabem por afetar a inflação, cuja expectativa para os próximos dez anos está ligeiramente abaixo de 2%. Além disso, a menor demanda pode reduzir a criação de emprego e, assim, o desemprego não deverá cair até os 5% projetados pelo Fed. Há inquietação também com o grande influxo de capitais externos, que podem gerar bolhas em seus mercados financeiros.

Também se mostram contrários à argumentação de que os juros baixos —usados para estimular a economia enfraquecida durante todos esses anos— gerem distorções porque permitem crédito para investimentos com retorno menor ou riscos maiores. Isso porque o sistema financeiro está mais regulado e melhor capitalizado, ou seja, mais seguro contra falências, e as empresas possuem mais dinheiro em caixa, dependendo menos de empréstimos.

Os dois principais argumentos a favor da elevação da taxa de juros são prevenir um superaquecimento da economia americana e ter margem para estimular a economia em uma recessão futura via nova redução da taxa de juros.

O primeiro argumento é bastante frágil, tendo em vista os resultados publicados no livro Bege, que reúne os dados da conjuntura econômica americana sempre duas semanas antes das reuniões do Fed. Apesar de apontarem crescimento, os resultados também estão abaixo das expectativas.

O segundo é contraintuitivo por dois motivos. Em primeiro lugar, a recuperação econômica gerada pela redução da taxa de juros no pós-crise de 2008 não foi tão eficiente quanto se esperava. Ou seja, a eficiência dessa ferramenta no futuro não deveria ser sobrevalorizada e os riscos internos e externos gerados pela elevação da taxa de juros são maiores do que os potenciais benefícios futuros.

Tanto os países no G20 como o FMI (Fundo Monetário Internacional) pediram aos Estados Unidos que não elevassem a taxa de juros devido às instabilidades internacionais que isso poderia causar. No entanto, ressaltaram que se os EUA forem subir os juros, que subam logo e em caráter definitivo. Pior do que elevar a taxa de juros seria elevá-la somente para, logo depois, reduzi-la novamente.

PANORAMA BRASIL

A produção na indústria caiu 1,5% de junho para julho, abaixo das expectativas de queda de 0,2%, refletindo a menor demanda interna e a baixa expectativa de crescimento dos produtores. As consultas de empréstimo no BNDES —medida usada para analisar intenção de investimentos— caíram 16% no setor da indústria no primeiro semestre, refletindo a insegurança dos produtores.

Mais preocupante é a redução de 65% das consultas de crédito no BNDES do setor de comércio e serviços. Somente no setor agropecuário houve aumento de consultas, de aproximadamente 9% no período.

O fraco desempenho atual e a piora das intenções de investimento futuro apenas refletem a insegurança generalizada relativa à conjuntura da economia e o conflito na abordagem político-econômica da crise, cujo âmago é o resultado primário de 2016.

De um lado há Joaquim Levy, atual ministro da Fazenda, que tenta cortar mais gastos do governo para alcançar um superavit primário de 0,7% do PIB em 2016. Ou seja, ignorando os gastos com pagamento de juros da dívida pública, o governo vai arrecadar mais do que gastar, o que teria efeitos recessivos sobre a economia.

A abordagem de Nelson Barbosa, atual ministro do Planejamento, é mais desenvolvimentista e visa aumentar as arrecadações através do crescimento e assim ajeitar as contas públicas.

A estratégia de Dilma, no entanto, não está clara. Ora aprova propostas de Nelson Barbosa e ora motiva e apoia Joaquim Levy. Os sinais ambíguos e a falta de poder político para aprovar medidas no Congresso deixam os mercados ainda mais inseguros.

Com dificuldade para reduzir os gastos abaixo dos níveis já atingidos, alegando que praticamente 90% das despesas públicas são determinadas por lei, com destino a saúde, educação, pensões e salários, o governo tenta aumentar a sua arrecadação através de diversas medidas.

Apesar do fracasso em reviver a CPMF, o governo afirma que poderá criar outros tributos temporários para o período de recuperação da situação fiscal. Também tenta aumentar o recebimento de grandes dívidas, agilizando os recebimentos, e vendendo mais ativos, o que daria mais dinamismo à economia e geraria receita ao governo.

A contínua desvalorização do real ante o dólar —que atingiu R$ 3,85 na semana passada—, embora seja a maior em quase 13 anos e ajude a enfraquecer as importações, aumenta a competitividade das exportações brasileiras.

Segundo Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, as exportações ajudarão na retomada do crescimento brasileiro já no começo de 2016. Ele afirma ainda que os custos das políticas adotadas estão separados dos benefícios gerados, que virão apenas em 2016. Por esse motivo, crê que a inflação cairá em 2016 e o Brasil deverá voltar a crescer.

Post em parceria com Álex Mondl von Metzen, graduando em economia pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia


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