Folha de S. Paulo


Questione sua memória e o excesso de confiança antes de tomar decisões

Você compra uma passagem aérea hoje para uma reunião de negócios em outra cidade. Em uma situação comum, provavelmente esse evento será apenas um fato corriqueiro em seu dia a dia. Agora, imagine se na semana da viagem a imprensa noticia um acidente com um avião da mesma companhia aérea que você comprou.

Neste caso, é bem possível que você considere cancelar a passagem e opte por outro meio de transporte. Se não fizer isso, as chances de embarcar neste avião mais tenso do que estaria antes do acidente também aumentam. De fato, os riscos da incidência de um acidente de avião não aumentaram. Mas o evento trágico recente em sua memória leva a crer que você estará mais exposto.

Nos estudos de psicologia cognitiva, isso é conhecido como heurística de disponibilidade. O psicólogo Daniel Kahnemann, em seu livro "Rápido e Devagar: duas formas de pensar", explica que nossa mente faz uma substituição de perguntas: quando você deseja estimar a frequência com que um determinado evento costuma ocorrer, acaba respondendo de acordo com o grau de facilidade que tem para encontrar algo relacionado a ele em sua memória.

O exemplo do acidente aéreo não é o único a nos mostrar como somos influenciados por heurísticas de disponibilidade.

Pense no momento de crise. Você tem uma empresa bem estruturada, fez todo o planejamento quando abriu as portas e vem cuidando da contabilidade com responsabilidade.

Ainda que seus resultados em anos anteriores não estejam tão diferentes em relação a este ano, o pessimismo do mercado e os efeitos negativos que provavelmente devem ter afetado pessoas próximas levam você a ter uma postura mais receosa e tendendo para o pessimismo, mesmo se não tiver feito as contas na ponta do lápis para saber se a crise poderá atingir você em breve.

Em um sentido oposto, uma heurística de disponibilidade positiva pode levar você a assumir riscos sem o devido planejamento. Você tem um primo que abriu uma franquia no bairro dele e está se dando super bem. O sucesso dele pode dar uma superconfiança de que aquele negócio é rentável e você acabar assumindo o risco de seguir o mesmo caminho sem um estudo de mercado adequado, levando a prejuízos posteriormente.

Nesta semana, o mundo inteiro se chocou com a notícia de dois jornalistas que foram assassinados enquanto gravavam uma matéria, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos. No mesmo dia em que a tragédia foi noticiada, a Forbes trouxe o dado de que 32 mil pessoas são mortas por arma de fogo por ano naquele país. O dado estatístico, combinado com o evento trágico, reforçam o sentimento de fragilidade e insegurança.

Assim como acontece em um evento trágico, uma notícia inspiradora de um fundador de uma startup, combinado com uma notícia que mostre a quantidade de startups que surgiram no último ano, podem incentivar a abrir um empreendimento.

Antes de tomar decisões, questione os fatores externos que estão influenciando naquele momento e busque elementos mais fortes do que as próprias impressões. É o jeito mais eficiente de evitar prejuízos.

Post feito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas


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