Folha de S. Paulo


Tudo que você precisa considerar antes de fazer uma compra

Quantas vezes você se questiona mentalmente antes de fazer uma compra? Quais são os critérios que utiliza para avaliar se realmente precisa levar aquele produto para casa? A publicidade está sempre em busca de vender um ideal e um estilo de vida —por mais surreal e fora da realidade que ele pareça—, e isso não é novidade para ninguém.

O interessante é que, desde o século XIX, a necessidade de consumo começou a ser moldada pela indústria. Ela constantemente se reinventa para que continuemos consumindo mais e tenhamos cada vez menos senso crítico antes de realizar uma compra.

A primeira parte do documentário britânico "The Men Who Made us Spend" traz um resumo histórico de como a agenda do consumo se transformou ao longo do tempo. Se a revolução industrial foi responsável por produzir demanda, a década de 1920 trouxe sua parcela para o aumento do consumo com a expansão do crédito.

No início da indústria automobilística, Henry Ford eternizou seu nome por estabelecer um modelo de produção em massa que impactaria não só o mercado de carros, mas a indústria de um modo geral. Acontece que, em um determinado momento, o modelo de carro criado por ele se popularizou de tal modo que as pessoas compravam e não tinham mais um "próximo objetivo".

Neste momento, entra em cena Alfred Sloan, que atuou como presidente da General Motors por mais de 20 anos. Sua ideia ainda é replicada hoje. Um carro é lançado e, no ano seguinte, o mercado lança um "upgrade" do modelo.

Cores vivas como esmaltes de unha, cuidado com os detalhes, tudo para os olhos dos consumidores brilharem cada vez mais. A ideia se encaixou como uma luva nos Estados Unidos da década de 1950, quando o país vivia o ápice do "American Dream".

Mais tarde, na década de 1980, veríamos uma nova transformação que levaria as pessoas a adotarem um modelo de consumo mais individualista, focado na necessidade de se sentirem únicas, a conhecida valorização da exclusividade.

Mike Riddle criou o AutoCad, programa que possibilitou uma revolução no modo de produzir embalagens. No lugar dos velhos padrões, agora os produtos poderiam ser produzidos em inúmeros tipos de formatos, reforçando a ideia de exclusividade e diferencial.

O próximo passo veio na década de 1990, com a cultura dos produtos descartáveis. Tudo é feito para durar pouco e para ser rapidamente substituído. O consumo desenfreado gerou um problema ambiental que ainda não conseguimos reverter. Nos últimos 30 anos, cerca de um terço dos recursos naturais do planeta foram consumidos.

O retrospecto negativo se soma a um outro fator que agora estamos vendo com clareza: o uso do crédito de modo desregrado. Avalie todo esse resumo de como o consumo se moldou ao longo do tempo para crescer continuamente e reveja seus gastos não só pelo momento de crise econômica. Vivemos um momento de transformação e o senso crítico precisa ter um papel mais atuante antes que você passe o cartão na máquina.


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