Folha de S. Paulo


Você é honesto?

Que pergunta a se fazer - mas não responda de imediato. Tire alguns minutinhos para esta reflexão, e procure se lembrar de ocasiões nas quais a sua conduta possa ter sido menos do que exemplar. Afinal, todos gostam de pensar o melhor de si - e a honestidade também entra nesta categoria. No entanto, a desonestidade não fica só na esfera dos grandes roubos e escândalos de corrupção.

Levar uma caneta do escritório para casa é desonesto? Você é completamente honesto ao preencher os formulários do seguro do seu carro, ou do plano de saúde? Se você tivesse a oportunidade de cometer o "crime perfeito", sem nenhum risco de ser pego, você o faria?

Nos estudos sobre honestidade, são considerados dois tipos de desonestidade. O primeiro é aquele em que você pesa os riscos e os benefícios do ato desonesto (roubar, por exemplo) e toma a sua decisão. Já o outro é cometido por pessoas que se veem como honestas, mas que já contabilizou um almoço com seus amigos como uma despesa corporativa.

Para avaliar se pessoas honestas podem também cometer atos ilícitos, o professor de economia comportamental da Universidade Duke Dan Ariely e um grupo de pesquisadores realizou um experimento com alunos do MIT. Eles deveriam responder uma prova com 50 testes em 15 minutos e, ao fim da prova, passar a limpo suas respostas em uma folha separada. Eles devolviam a prova e a folha de respostas para um monitor em sala de aula e, para cada acerto, ganhavam US$ 0,10.

Um segundo grupo realizava o mesmo teste, mas quando recebiam a folha de respostas, os alunos viam que as alternativas corretas já estavam pré-marcadas. Se eles vissem que a resposta escolhida não era a correta, tinham a opção de "mudar de ideia" na hora de preencher a folha de respostas. Eles deveriam marcar quantas respostas corretas obtiveram na prova e na folha de respostas e o monitor verificava apenas esta marcação - e recebiam os mesmos US$ 0,10 por acerto. Ou seja: "colar" se tornava uma possibilidade.

Um terceiro grupo seguia o mesmo esquema do segundo, com as respostas corretas pré-mercadas na folha, mas com uma diferença: eles deveriam destruir a prova e entregar somente a folha de respostas, eliminando assim qualquer prova de que haviam acertado menos testes do que indicava a folha de respostas.

Por fim, um quarto grupo deveria destruir a prova e a folha de respostas (que vinha com as alternativas corretas pré-marcadas) e pegar os US$ 0,10 por acerto direto de um pote, sem nenhum tipo de supervisão. Não dava para deixar mais fácil - os alunos poderiam não só dizer que acertaram todas as perguntas e levar US$ 5, mas também poderiam retirar mais dinheiro ainda do pote.

Nossa intuição diria que conforme os alunos eram mais tentados a "colar" e exagerar o número de acertos, maior seria a nota média daquele grupo, correto?

No entanto, não foi este o resultado. Para o primeiro grupo, o grupo de controle, a nota média foi de 32,6 respostas corretas (de 50). Já o segundo grupo teve uma média de 36,2, com 3 acertos a mais. No entanto, o terceiro e o quarto grupos não tiveram uma diferença deste segundo grupo - eles acertaram, em média, 35,9 e 36,1 respostas, respectivamente. O fato de ficar cada vez mais fácil de colar não teve praticamente nenhum impacto no comportamento dos alunos.

O experimento mostra que se tivermos a oportunidade de ganhar vantagem através de um ato desonesto, muitos realmente vão aproveitá-la. No entanto, não é uma pequena minoria que rouba muito - são muitos que roubam ou colam, mas só um pouquinho. O risco de ser pego não influencia muito - o que pesa mais é o nosso "termômetro interno" de honestidade.

Segundo Ariely, as transgressões menores (colar duas ou três perguntas na prova, levar uma ou duas canetas do escritório para casa) não são vistas como tais - somente as maiores (afirmar que acertou 100% das pergunta na prova, ou levar a caixa inteira de canetas). Nem chegamos a considerar se as ações menores refletem, de alguma forma, na nossa honestidade - afinal somos todos honestos, não?

Se pararmos para pensar com mais profundidade, talvez não seja sempre este o caso.

Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista, fundadora do site Finanças Femininas e coautora do livro "Finanças femininas - Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos" (Saraiva)


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