Folha de S. Paulo


Por que é tão difícil tentar entender o outro?

Tire alguns momentos para pensar nas pessoas mais politicamente engajadas em seu círculo social. Já notou como é raríssimo encontrar alguém que seja capaz de defender políticas públicas a despeito de legenda?

Se a pessoa tem uma inclinação para ser de direita, dificilmente vai dar espaço para considerar uma política pública adotada pelo partido de oposição. Se a ideia fosse apresentada sem a presença da legenda, ela provavelmente pensaria a respeito do assunto com mais abertura.

Por mais que essa polaridade pareça natural, você já refletiu sobre o motivo de isso acontecer? O psicólogo americano Paul Slovic chama isso de "heurística de afeto". Em geral, os argumentos que formulamos e as decisões que tomamos são definidos com mais convicção quando há emoções envolvidas.

No exemplo do partidarismo, se você se identifica com os ideais de uma determinada legenda, tenderá a antipatizar com tudo que a bandeira oposta defende e também a desprezar o que ela pode oferecer como benefícios.

A heurística de afeto se encaixa, por exemplo, nos casos de extremismo que vemos pelo mundo e aqui mesmo no Brasil. Um fanático religioso é capaz de matar em função de suas convicções. Em um exemplo mais brando, dois torcedores de futebol rivais terão pontos de vista completamente opostos na análise de um pênalti duvidoso durante um clássico, ainda que o lance seja reprisado inúmeras vezes.

Ainda que você não seja um fanático religioso ou um torcedor obcecado, os exemplos acima servem para mostrar a importância de deixar a mente aberta para ouvir opiniões diferentes e tentar analisar pontos de vista distintos de um modo mais racional e menos emotivo.

Em tempos de crise, por exemplo, se o faturamento da sua empresa segue ladeira abaixo e os números comprovam que é praticamente impossível sobreviver, o amor pelo empreendimento pode levar você às últimas consequências, enquanto a opção por fechar o negócio antes do agravamento do quadro poderia ser uma solução mais viável e com menor impacto financeiro.

Aliás, o laço emocional com um empreendimento pode inclusive ser um empecilho para que você consiga fazer uma leitura racional da real situação da empresa. Ignorar balanços ruins, apegando-se à convicção de que as coisas vão melhorar, pode ser o passo para o precipício.

Nossa mente tem uma capacidade muito grande de contestar nossas primeiras impressões quando falamos de cálculos complexos, buscamos memórias antigas ou fazemos comparações. No entanto, quando falamos de atitudes, temos uma tendência a defender nossas emoções em vez de contestá-las. Na hora de julgar se foi pênalti ou não, pense bem sobre este assunto.

Fora dos gramados, a teimosia pode te fazer perder muito mais do que um simples argumento.

Post feito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas


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