Folha de S. Paulo


Seu animal preferido pode interferir em seu futuro profissional

Sair de uma entrevista de emprego com uma sensação estranha de não saber se você foi bem ou não é algo bastante comum. Principalmente se tiver chegado preparado para responder as perguntas convencionais, mas for surpreendido por uma dinâmica ou por questionamentos que parecem não fazer sentido. Por exemplo, qual o objetivo de responder em uma entrevista de emprego o animal que você gostaria de ser?

Na verdade, é com base em sua resposta que o recrutador avalia quais os atributos você poderia ter dentro de uma equipe e se o seu perfil está de acordo com o que a empresa busca. Aves, por exemplo, trazem um contexto de liberdade que pode ser associado a quem trabalha com criação. Bem como a personalidade de um tigre ou uma leoa podem ser facilmente associados à liderança.

Analisando este tipo de contexto de um modo superficial, não fica a impressão de que os recrutadores poderiam ser mais específicos e simplesmente perguntarem se você tem um perfil de líder ou é se é uma pessoa criativa? Por mais que possa parecer espantoso, sua resposta para a pergunta enigmática é muito mais sincera e esclarecedora que aquela que você daria para uma pergunta objetiva. 

O psicólogo e economista comportamental, Daniel Kahneman, fala sobre essa técnica de substituição de perguntas em seu livro "Rápido e devagar: Duas formas de pensar". Ao abordar o tema, ele fala sobre a pergunta-alvo e pergunta heurística. Quando nos deparamos com perguntas amplas demais ou difíceis de responder, substituímos por outras mais fáceis. 

Se alguém te pergunta, por exemplo, até que ponto você imagina que chegará a carreira de determinado político, sua resposta será dada com base no que você conhece dele até aquele momento. Na verdade, você não está avaliando o potencial daquela pessoa a longo prazo, você usa os elementos dos quais dispõe para dizer sobre o potencial do político. A real pergunta que você respondeu foi: "O que eu penso sobre este político?". 

Se o recrutador te pergunta objetivamente por que você daria um bom líder, o mais provável é que ele receba uma resposta abrangente sobre a sua ideia a respeito de liderança, mas que não necessariamente reflita o seu potencial como líder. Por outro lado, ao descrever as características do animal que você gostaria de ser, o recrutador percebe exatamente quais são os atributos que você prioriza. A resposta intuitiva e sem muita reflexão entrega muito mais sobre sua personalidade do que aquela ensaiada para uma pergunta padrão.

Sendo assim, se sua preferência for por algum animal muito exótico ou polêmico, como uma cobra ou um abutre, é melhor pensar duas vezes na hora de dar sua justificativa para a escolha. Afinal, você está respondendo a perguntas muito mais profundas do que imagina.

Post em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas


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