Folha de S. Paulo


Ciclo vicioso inflação-recessão

Em tempos onde as taxas de juros estão em pauta, a importância de analisar a relação entre elas e a economia é significativa. Sabe-se que o governo está tentando conter a inflação de 8,17% no acumulado em 12 meses até abril aumentando a taxa de juros Selic, que já se encontra em um nível alto, de 13,25% ao ano.

A grande questão é que a alta na Selic tem impacto positivo na inflação, mas intimida o consumo e se reflete em todo o sistema econômico.

O país enfrenta a pior recessão econômica dos últimos 25 anos e a expectativa, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), é de uma retração de 1% neste ano. Com as taxas de juros altas, um dos maiores problemas, causado pela redução do consumo, passa a ser o desemprego, que vem crescendo e começa a incomodar (7,9%).

Nem a indústria, que tentou levar para frente a economia brasileira em 2014, está se mantendo de pé. A expectativa de recuo no setor é de 2,5% neste ano.

Já que a economia se encontra retraída e o desemprego vem aumentando cada vez mais, o que deve ser feito para que o país volte a funcionar?

Após fechar o ano de 2014 no vermelho e a possibilidade de a nota de risco de crédito do Brasil no exterior ser rebaixada para aquém do grau de investimento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estipulou uma meta de superavit primário de 1,2% do PIB (equivalente a R$ 66,3 bilhões) para que as dívidas de juros sejam diminuídas e para que a economia volte a funcionar.

Visando esta meta, Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, propõem ao Congresso cortes de gastos por meio da correção de certos benefícios em que existem distorções.

O ajuste fiscal é o fator decisivo para que haja uma recuperação econômica. O governo tem a tarefa dificílima de economizar mais de R$ 78 bilhões, isto é, gastar muito menos do que recebe. Com uma diminuição de gastos, o nível de poupança supostamente aumentaria, fazendo com que os investimentos voltassem a um nível normalizado ou, ao menos, aceitável, retirando o país desse cenário inconveniente.

Além da diminuição de gastos, por meio de cortes como seguro-desemprego, auxílio-doença, pensão por morte, seguro-defeso e abono salarial, Levy também promete, e vêm tentando, elevar a arrecadação, por meio do aumento de impostos como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), PIS e COFINS, além de outros mecanismos, como a volta da alíquota cheia do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Agora resta esperar para ver se, por meio do ajuste fiscal, Levy conseguirá controlar as finanças do país, reequilibrando os gastos e, consequentemente, melhorando o cenário econômico brasileiro. Se der certo, o país tem tudo para superar essa recessão, já que investimentos aumentariam e futuramente, quando a inflação já estiver sob controle, quando os juros voltarem a diminuir, ocorreria novamente um incentivo ao consumo, mas, dessa vez, moderado, para que não comece novamente o ciclo vicioso inflação-recessão.

Post em parceria com João Pedro Freire Martins de Lima, graduando em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, consultor pela Consultoria Junior de Economia


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