Folha de S. Paulo


O uso do humor na medida certa para o desenvolvimento da carreira

De que forma o seu estado de espírito afeta o seu trabalho? Não estamos falando de uma situação pontual em que você foi trabalhar chateado em função de um problema pessoal. De um modo mais amplo, você já parou para imaginar como seu estado de humor afeta sistematicamente a sua carreira? Seu tipo de personalidade e a forma como você encara a vida condizem com o ambiente profissional que você ocupa?

Bem, sabemos que os ambientes de trabalho hostis são pouco benéficos para a criatividade. Por outro lado, você consegue imaginar que um ambiente sem nenhum nível de estresse possa lhe prejudicar de alguma forma? Nossa tendência é acreditar que não, mas a grande surpresa é que eles também possuem seus revezes.

O psicólogo Daniel Kahneman consegue ponderar os dois lados quando fala sobre o que chama de conforto cognitivo. Quando estamos calmos e de bom humor, o mais provável é que o ambiente ao nosso redor não ofereça nenhum tipo de ameaça, ou seja, ficamos com a mente relaxada.

Neste contexto, você gosta do que está observando, sente-se confortável e confiante em sua intuição. O ambiente perfeito para estimular a criatividade. Uma prova de como esse modelo tem seu valor é o tipo de estrutura adotada por empresas no Vale do Silício.

A estratégia de colocar à disposição dos funcionários um ambiente light e bem humorado, mesmo com muita carga de trabalho, não é adotada simplesmente para que as companhias pareçam "descoladas". O ambiente serve de instrumento para estimular a equipe a pensar fora da caixa.

Em contrapartida, o revés desse modelo é que as pessoas ficam com a "guarda baixa". O clima confortável não sugere conflitos ou tensões que provocariam um estado de alerta. Sendo assim, você não sente a necessidade de se mostrar mais vigilante ou desconfiado, ou seja, fica mais suscetível a erros ou deslizes.

No exemplo do Vale do Silício, a competitividade entre colegas pode aparecer como elemento de equilíbrio, no sentido de despertar o estado de alerta. No entanto, de um modo geral, o bom humor tem esse outro lado da moeda, de não estimular a desconfiança, muito pelo contrário.

Em situações opostas, quando a mente está tensa, há uma tendência maior a ficarmos vigilantes e com uma necessidade de investir mais esforço no que estamos fazendo, tendo em vista que não confiamos nas condições que estão sendo apresentadas. É como um animal fora de seu habitat ou longe de seus semelhantes. Os sentidos ficam aguçados para que ele não se torne uma presa fácil para outras espécies.

O segundo tipo de ambiente pode ser facilmente visualizado em locais com alto nível de estresse, como é o caso das pessoas que trabalham com ações na Bolsa de Valores. A tensão é necessária para manter o estado de alerta e evitar ao máximo a ocorrência de erros.

O psicólogo Shane Frederick certa vez realizou um experimento em que alguns testes de raciocínio foram apresentados a um grupo de alunos, sendo metade deles impressos em ótima qualidade e a outra metade com impressão ruim.

Os resultados apontaram uma quantidade menor de erros cometidos nas folhas com impressão ruim, tendo em vista que os alunos precisaram empreender um esforço maior para resolver os problemas com a dificuldade que tiveram para ler. Pense nos casos citados neste texto e reflita sobre a forma como você reage ao seu ambiente de trabalho. O equilíbrio entre boas risadas e a testa franzida de vez em quando podem ser cruciais para seus resultados finais.

Post escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas


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