Folha de S. Paulo


Você sabe tomar decisões no momento certo?

No dia a dia é comum mantermos a mente ocupada com mais de uma coisa ao mesmo tempo. Conversamos ao celular enquanto mexemos o brigadeiro na panela, participamos da reunião de trabalho e simultaneamente enviamos e-mails, conversamos enquanto dirigimos, entre outros exemplos.

Mas você já parou para pensar nos efeitos de dividir a atenção? Sabe ao certo o que isso pode determinar em seu comportamento e os limites de seu esforço mental?

Ao passo que temos a capacidade de executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, nossa mente possui limitações e a nossa capacidade de julgamento é afetada se nos esforçarmos demais em uma determinada tarefa e ainda continuarmos realizando uma segunda atividade.

A verdade é que um conflito mental é gerado quando você quer lidar ao mesmo tempo com seus pensamentos e com autocontrole. Já notou que você tende a abaixar o volume de uma música no carro quando está ansiosamente procurando por algo de que precisa com urgência?

Ainda que a canção lhe agrade, naquele momento de concentração ela pode se tornar incômoda. Outro exemplo parecido: durante uma caminhada leve você é capaz de pensar em vários assuntos, mas se iniciar uma corrida até os limites de sua capacidade é possível que pare de pensar em qualquer outra coisa, para que assim possa exercer domínio sobre seu corpo.

Uma outra constatação sobre concentração x autocontrole vem de um estudo realizado pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o qual é chamado de "experiência ótima". Resumindo, ele mostra que nem sempre a concentração vai demandar esforço e que pode ser uma experiência até prazerosa.

Quando você se dedica a algo de que gosta muito, a tendência é que se concentre profundamente naquilo, perdendo a noção do tempo. Isso pode acontecer enquanto um pianista se apresenta em um longo concerto, um ciclista completa um circuito ou um químico passa horas desenvolvendo um trabalho de pesquisa. Atividades trabalhosas, que porém não envolvem autocontrole, não geram conflito mental.

Ao contrário disso, um outro tipo de teste pode mostrar como nossa capacidade de tomar boas decisões pode ser afetada no cotidiano em situações de estresse mental. O psicólogo Daniel Kahneman fala sobre os estudos que já foram feitos mostrando como podemos tomar decisões impulsivas em momentos que nossa concentração precisa estar focada em uma atividade paralela.

Pense no seguinte experimento: você é desafiado a se lembrar de sete dígitos por um dia sem anotar. Caso consiga, você será recompensando com um prêmio valioso. Enquanto você mantém sua atenção nos dígitos durante o almoço, alguém lhe oferece duas opções de sobremesa: salada de frutas e um bolo de chocolate bem calórico. Neste momento, a tendência é que você opte pelo bolo. O impulso acaba falando mais alto do que o raciocínio, que está focado em outra atividade.

Isso se assemelha, por exemplo, a uma tática muito comum utilizada entre empresários interessados em fechar um negócio com urgência com um cliente. Não raro acontecem situações em que a pessoa é levada para falar sobre o assunto em algum bar ou evento social que envolva bebidas alcoólicas. O álcool inibe a capacidade de autocontrole do sujeito e o induz a tomar decisões impulsivamente.

Assim como o doce do experimento ou o álcool para fechar um negócio, você pode tomar uma péssima decisão de trabalho se entrar para uma reunião importante depois de ter passado uma noite mal dormida. Bem como tenderá a gastar mais em uma loja de roupas se olhar a vitrine depois de um dia exaustivo.

Falta de sono, exposição a situações tentadoras diante de estresse mental e o uso de bebidas alcoolicas são exemplos de instrumentos que afetam o nosso autocontrole. Vale a reflexão sobre o assunto para saber até que ponto você está se estressando mentalmente no cotidiano e sobre o contexto que escolhe para tomar decisões financeiras e profissionais importantes.

Texto escrito em parceria com Karina Alves, editora do site Finanças Femininas


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