Folha de S. Paulo


Crowdfunding ou Financiamento Coletivo

Quantos de nós não temos um grande sonho, uma causa ou um projeto? Criar, ajudar, apoiar, educar, inovar, empreender, construir e difundir são algumas das aspirações inerentes ao ser humano.

No entanto, dar vida a essas ideias e colocá-las no plano prático é, muitas vezes, um obstáculo que nos parece intransponível. Tirar o projeto da gaveta não significa apenas possuir recursos intelectuais e empreender esforços, mas também é preciso um investimento financeiro! Em outras palavras, é necessário dinheiro, o que convenhamos, nem sempre é fácil conseguir.

O financiamento coletivo (ou crowdfunding em inglês) consiste em projetos idealizados e financiados pela própria sociedade. Ele ocorre através da obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo por meio da combinação de múltiplas fontes de financiamento, sobretudo de pessoas físicas interessadas na iniciativa (geralmente, cada contribuidor entra com uma pequena quantia). Como beneficiários desses financiamentos, podemos citar uma vasta gama de pessoas e microempresas, tais como pequenos negócios, start-ups, artistas, jornalistas, ONGs, iniciativas de software livre, pessoas com projetos esportivos e educativos, entre outros.

Esta iniciativa vem permitindo que pessoas, com os mais variados projetos, levantem recursos para realizá-los. Essa modalidade de financiamento, que tem suas origens na filantropia, começou a aparecer no formato atual há pouco mais de sete anos.

O processo acontece via sites da internet e é bastante simples. Os interessados cadastram-se nessas plataformas informando o que pretendem fazer, quanto pretendem arrecadar, qual o prazo de captação e quais as recompensas e contrapartidas para os investidores. As plataformas selecionam os projetos e a partir daí os investidores passam a ter a possibilidade de contribuir e apoiar as iniciativas.

A maioria das captações acontece num prazo de até 60 dias e adota o modelo de "tudo ou nada", ou seja, se a captação não atingir o valor necessário, os recursos são devolvidos aos investidores.

Atingindo-se o objetivo, aqueles que apoiaram, recebem as recompensas, que podem ir desde um agradecimento por email até produtos oriundos da campanha ou participação societária.

No Brasil já existem dezenas de sites de crowdfunding, de múltiplos gêneros, levantando fundos para diversas modalidades de projeto, como o Catarse e o Kickante, e outros voltados para nichos específicos, como o Playbook (música), Pódio Brasil (esportes), Partio (cultura) e Kolmea (projetos sustentáveis). O site Clube do Financiamento Coletivo reúne projetos de diversos portais em um único local.

No exterior a oferta é imensamente maior, existem milhares de sites, como por exemplo, o Kickstarter e Indiegogo (projetos genéricos), Crowdrise (caridade) e Somolend (projetos sociais). Os países líderes são Estados Unidos, seguidos de Reino Unido e França.

Por ter ganhado expressividade apenas nos últimos dois anos, há poucos dados sobre o setor, mas o crescimento é exponencial. Estima-se que em 2013 o volume de crowdfunding no mundo tenha arrecadado recursos na ordem de US$ 5 bilhões ante apenas US$ 90 milhões em 2010.

CROWDFUNDING NO BRASIL

No Brasil, a maioria da população ainda desconhece a prática do crowdfunding. Mas aqueles que solicitam o financiamento já têm a cultura de apoiar a ideia na prática. Em pesquisa realizada pela plataforma Catarse em parceria com a Chorus, foi levantado que mais de 50% daqueles que procuraram esse meio, já apoiaram de dois a cinco projetos, sendo que apenas 4% nunca havia contribuído.

Segundo esta mesma pesquisa, jovens entre 25 e 30 anos com ensino superior completo correspondem a quase 40%. Mais da metade tem renda mensal entre R$ 1,5 mil e R$ 6 mil e são empregados de empresas privadas ou empreendedores, notadamente das áreas de comunicação e jornalismo, administração e negócios ou ainda web e tecnologia.

O histórico de projetos bem sucedidos aponta que os principais motivos para o sucesso são: a boa campanha de divulgação e o fato do projeto ser relevante para um grande número de pessoas. O forte apoio de familiares e amigos também é fundamental, em média 30% dos recursos levantados vêm desse círculo.

O financiamento coletivo tem tudo para continuar crescendo. Mais do que uma alternativa para o crédito clássico, que em épocas como as de agora é restrito, o crowfunding representa uma poderosa tendência em que os recursos viabilizadores de projetos saem das mãos do grande financiador e passam para o indivíduo comum, democratizando o surgimento e a concretização de sonhos e de novas ideias.

Post em parceria com Daniel Carasso


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