Folha de S. Paulo


Economistas ajudam a não deixar tudo para a última hora

A volta às aulas está logo aí e, com ela, uma maré de boas intenções: ser um aluno melhor, não atrasar na entrega de trabalhos, estudar com antecedência... No entanto, basta passar o Carnaval para tudo voltar ao mesmo ritmo de sempre: professores cobrando alunos e esses deixando tudo para a última hora.

Perder a data de entrega de um trabalho na faculdade é um problema idêntico ao de deixar a dieta para segunda-feira, na teoria econômica comportamental. São questões de procrastinação e de autocontrole, quando abrimos mão de nossos objetivos de longo prazo (tirar notas boas, emagrecer) em prol da satisfação imediata (assistir mais um episódio daquela série de TV, um brigadeiro).

Para encontrar formas de lidar com o problema –e ainda ajudar seus alunos no MIT–. Dan Ariely, autor de "Previsivelmente Irracional", realizou um experimento com seus alunos. Para três salas diferentes, ele propôs três esquemas diferentes para o prazo de entrega dos trabalhos do semestre. Na primeira sala, os alunos podiam estabelecer os prazos que melhor lhes conviesse. Quem atrasasse perderia 1% da nota por dia. Na segunda sala, não havia prazo para entrega e, na terceira, ele mesmo estabeleceu os prazos, sem deixar nenhuma flexibilidade para os alunos.

O resultado foi medido pelas notas dos alunos. Em primeiro lugar, ficaram os alunos da terceira sala (com prazos preestabelecidos), seguidos pelos alunos da primeira sala (os que puderam estabelecer seus próprios prazos) e, por fim, dos alunos da segunda sala (sem prazo nenhum). Ou seja: reduzir a liberdade dos alunos e definir, de forma autoritária, os prazos de entrega de trabalhos foi a melhor forma de combater a procrastinação.

"No entanto", segundo afirma Ariely, "a maior revelação foi de que simplesmente oferecer aos estudantes uma ferramenta com que se comprometeriam com prazos os ajudou a melhorar as notas."

E mais: os alunos que espaçaram mais os seus prazos de entrega conseguiram notas melhores do que os que deixaram a data de entrega de todos os trabalhos para o último dia de aula. O resultado faz sentido, pois os primeiros se deram um estímulo claro para começar a trabalhar logo no início do semestre, em vez de deixar tudo para a última hora.

Esse experimento tem um impacto claro para o nosso dia a dia, seja você um estudante ou não. Se você tem um problema de disciplina e autocontrole na hora de lidar com um objetivo específico (parar de fumar, voltar para a academia, ler um livro por mês), estabelecer metas e prazos pode ser uma ajuda importante.

Na maioria das situações, você não vai encontrar prazos definidos por uma figura de autoridade (como o professor da terceira sala de aula). Entretanto, as pessoas que conseguem admitir que têm problemas de procrastinação podem usar essa ferramenta para se impor um ritmo e ter um "empurrão" na direção certa.

Post em parceria com Carolina Ruhman Sandler, jornalista e fundadora do site Finanças Femininas


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