Folha de S. Paulo


A esperança na corda bamba de sombrinha

A indústria dá fortes sinais de abatimento. Desde março deste ano, a atividade industrial apresentou sucessivas quedas índices da PIM-IBGE. Comparando o índice de agosto deste ano com o de 2013, nota-se uma redução de 3,13%. Esse desaquecimento torna-se ainda mais assustador quando lembramos que a indústria é o setor responsável por maior agregação de valor na economia, por meio dos ganhos produtividade e da inovação. Uma economia com indústrias fragilizadas perde muito em produtividade e, consequentemente, em competitividade.

Não surpreende, portanto, analisar dados como os da Conference Board, que evidenciam que, em 2013, os funcionários de empresas brasileiras produziram, em média, US$ 10,8 por hora trabalhada, o menor valor entre países latino-americanos. Comparativamente, a média chilena foi de US$ 20,8, a mexicana, de US$ 16,8, e a argentina, de US$ 13,9.

Um fenômeno digno de atenção, que ocorre no Brasil, é o fato de que embora a atividade industrial seja desanimadora e números recentes apontem para a existência de uma recessão técnica, a parcela de desempregados na PEA não tem se elevado de forma significativa. "Jobful recession" (algo como recessão sem desemprego, em livre tradução), termo cunhado pelo prof. Paulo Picchetti da FGV, resume bem essa jabuticaba.

O alto nível de emprego, no entanto, pode ser explicado pela geração de vagas nos setores de comércio e serviços, propiciada pela guinada no consumo no país, e até pelos custos exorbitantes para demissão de trabalhadores no Brasil.

Vale ressaltar, entretanto, que esse "pleno emprego" não é sustentável, já que fatores reais da economia não têm crescido no ritmo necessário para tal. Assim, a tendência de pressão inflacionária continua, agravada pela depreciação da moeda brasileira ao longo dos últimos meses.

Combater esses problemas requer uma série de medidas amplamente difundidas, nas quais os governantes parecem falhar sistematicamente. A primeira delas, obviamente, é o investimento em qualidade na educação tradicional e técnica para aumento de produtividade. É inadmissível que, ainda hoje, 40% dos estudantes de ensino superior no Brasil sejam analfabetos funcionais e que a discrepância entre o conteúdo dos currículos escolares e o conhecimento exigido no mercado de trabalho seja tão grande.

Além da educação, é necessário haver incentivos à inovação e novas tecnologias, bem como desenvolvimento da infraestrutura (especialmente de transportes), diminuição da burocracia e maior abertura ao comércio internacional, para aumento de competição e consequente incentivo à redução de preços e incremento da qualidade dos bens nacionais.

É evidente que coordenar partidos, governos, setor privado e sociedade para um mesmo fim não é fácil, mas já passou da hora de o Brasil encarar com seriedade o desafio de seu futuro. Ansiosos por medidas efetivas de crescimento e desenvolvimento econômico, seguimos em frente. Afinal de contas, a despeito de todas as dificuldades, a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar...

Post em parceria com Giovana Carvalho, graduanda em economia pela FGV-EESP.


Endereço da página: