Folha de S. Paulo


Finais felizes enganam a nossa memória

Quem não gosta de um final feliz? A premissa de que não importa o que aconteça, pois no fim tudo acaba bem, é poderosa e já levou milhões de pessoas ao cinema.

No entanto, pesquisas recentes da economia comportamental mostram que a forma de avaliar uma experiência (seja um filme, um relacionamento ou um exame médico) pode afetar diretamente a nossa memória sobre ela - e assim determinar diretamente a nossa propensão a repeti-la no futuro. Se ela terminou de uma forma positiva (ou menos pior do que o início), são grandes as chances de querermos tentar mais uma vez.

Em outras palavras: nossa memória nos engana. É como o casal que passou meses sem dormir após o nascimento do primeiro filho, mas que algum tempo depois já está disposto a engravidar novamente, pois a percepção é de que "não foi tão difícil assim". Agora, tente falar isso para uma mãe que acorda de duas em duas horas para amamentar de madrugada por semanas a fio!

De acordo com estudos recentes, nossa memória de uma experiência é criada da seguinte forma: em um primeiro momento, sumarizamos o ocorrido, para depois fazer uma avaliação. No entanto, o que acontece é que o "resumo" da experiência não inclui todos os seus componentes igualitariamente, mas foca em alguns pontos específicos: o momento do seu auge e o fim.

Com isso, alguns poucos momentos têm mais peso na avaliação geral do que outros. Imagine um jantar em um restaurante com um serviço especialmente lento. Logo no início, o garçom esquece de trazer o couvert, as bebidas demoram a chegar e as entradas são servidas frias. Se o prato principal for de fato bom e ao fim, o garçom trouxer uma sobremesa de cortesia, é provável que a memória geral do jantar seja positiva e você tenha, inclusive, vontade de comer lá novamente.

Isto vale especialmente se a experiência teve um começo ruim. É como em um exame médico, no qual a parte mais dolorosa é realizada logo nos primeiros momentos e, aos poucos, o desconforto vai diminuindo. Essa experiência tem mais chances de ser repetida do que um outro exame tão doloroso quanto, mas com o incômodo deixado para o fim - mesmo se ela for mais curta!

Post em parceria com jornalista Carolina Ruhman Sandler, fundadora do site Finanças Femininas.


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