Folha de S. Paulo


Mercado imobiliário tem descasamento entre oferta e demanda

O marketing do mercado imobiliário preconiza anúncios crescentes dos preços dos imóveis ao longo do tempo para que o comprador de uma nova casa ou apartamento esteja sempre satisfeito com a valorização do seu bem.

Nenhum consumidor ficaria satisfeito se comprasse um imóvel na planta por um valor e, no mês seguinte, o preço das unidades restantes caísse 10%, mesmo que a título de promoção.

No momento atual, no entanto, é possível que muitos compradores e investidores estejam começando a ficar decepcionados. A quantidade de leilões de imóveis no mercado não para de aumentar, e os descontos estão se multiplicando rapidamente e em escalas cada vez maiores, podendo chegar a até 45%.

Fala-se muito que ainda há demanda por imóveis e que tais descontos não são indicativos de queda de preços. O problema não está na demanda, mas no valor praticado, que no momento ainda é muito alto.

O que se detecta hoje é um descasamento entre oferta e demanda. O público já não considera mais viável pagar tão caro e acaba forçando os preços para baixo. Como consequência, surgem os descontos. Afinal, oferecer um imóvel supostamente de R$ 1 milhão por R$ 800 mil possui um apelo muito maior do que simplesmente anunciá-lo a R$ 800 mil.

Não é a primeira vez que o tema é abordado nesta coluna e as críticas são frequentes. A principal alegação é que, segundo muitos índices, os preços não desceram. Esquece-se, contudo, de que tais índices não são capazes de mostrar a tendência correta do mercado por não levarem em conta os descontos aplicados, pois captam apenas os valores anunciados, não o preço do negócio fechado.

Todas as informações indicam que o momento é de desaquecimento. Dados do Secovi-SP mostram que o metro quadrado do imóvel novo na cidade de São Paulo acumula apenas 2,31% de alta no ano até o mês de julho, não ultrapassando nem mesmo a inflação, que chegou a 3,76% nesse período.

Ainda segundo o Secovi, a venda de imóveis novos em São Paulo caiu 31,3% no mês de julho e já acumula 48,9% de queda no ano, o que ratifica que a demanda está se enfraquecendo.

Para finalizar, cabe o questionamento: se o mercado estivesse realmente a todo o vapor, por que um imóvel de R$ 1 milhão seria vendido por um profissional especializado a preços tão reduzidos? Vale refletir.


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