Folha de S. Paulo


Política de incentivos no setor automotivo

Muita gente se pergunta por que o setor automotivo é a menina dos olhos do governo brasileiro quando o assunto é a política econômica. É uma boa pergunta. Qual o critério, afinal?

Nesta sexta-feira (5), a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) defendeu os incentivos federais ao setor para gerar renda e trabalho, com o argumento de que a indústria tem a capacidade de dar respostas rápidas às necessidades do país.

A questão é que outros setores também passam por dificuldades, mas, nem por isso, recebem incentivos do governo, pelo menos não com a mesma frequência. Todos querem incentivo. O ideal seria mesmo que houvesse uma reavaliação constante e criteriosa do destino desses incentivos.

No setor energético, por exemplo, a Apine (Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica) estima que o rombo na conta dos geradores chegue a R$ 20 bilhões. A indústria têxtil perdeu 2.445 vagas desde julho de 2008, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Na indústria calçadista, foram 3.877 postos de trabalho a menos no mesmo período.

O Brasil precisa planejar melhor o uso de suas ferramentas econômicas. Isso significa estudar quais setores vêm se destacando. Descobrir a sua verdadeira vocação para concedermos o incentivo com critérios mais sólidos e vinculados à exportação. Afinal, o que fazemos melhor do que os outros países? Carros, computadores, cosméticos?

O país precisa de fato adotar a Teoria da Vantagem Competitiva, atentando para as características peculiares de cada setor, como a qualidade superior do produto, a amplitude na distribuição, as técnicas de produção com baixo custo.

Obviamente, uma das principais críticas da política de incentivo ao setor automotivo gira em torno de sobrecarregar ainda mais o trânsito, além dos transtornos ambientais. Porém, ainda que façamos uma análise mais restrita à questão econômica, o tema sempre é digno de discussão.

Não é novidade que aquele carro caríssimo vendido no Brasil pode ser encontrado a preço de banana em países europeus ou nos Estados Unidos. O consumidor tem o direito de entender a lógica adotada pelos governos. Estamos falando em abrir mão de dinheiro público, estamos falando de algo que afeta a todos em nome de alavancar a economia.

Post em Parceria com Adriana Matiuzo


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