Folha de S. Paulo


Caso Santander: que opiniões sejam ditas

O texto do Santander enviado a clientes dizendo que o mercado torce contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff abre debate para um tema importante no Brasil: até quando vetamos a opinião de profissionais em detrimento de uma censura?

Devemos frisar que o papel de uma análise financeira é dar uma visão sobre o mercado para proteger os investidores. E a análise feita pelo profissional do Santander não foi infundada -a confiança da indústria, que atingiu patamar mais baixo desde 2009 em junho, é uma prova disso.

A crítica de que o país deixa a desejar para os investidores, não significa também que o Brasil vai mal para os próprios brasileiros. Ainda que a inflação esteja alta, o desemprego se manteve estável em junho e o salário mínimo teve reajuste real (tirando a inflação) de 146% em 20 anos, segundo pesquisa do Instituto Assaf.

Ora, se a análise diz respeito ao universo dos investidores e não dos brasileiros como um todo, por que escondê-la ou negá-la?

Nesta censura política, saem na frente os críticos desqualificados em redes sociais e perdem espaço profissionais qualificados e estudiosos da economia que têm bagagem para prever cenários e alertar investidores.

Os bancos têm de ter liberdade para criticar o governo, sem difamação. As críticas são apenas opiniões que devem ser libertadas. Ou seja, devem chegar ao público final em uma sociedade democrática.

Deixar de falar pode até ajudar a reputação do governo. Mas e a reputação no mercado? Será que os bancos ganham confiança ao omitirem visões a seus investidores? Entramos em um debate político, sem qualquer caráter social, técnico e econômico. Menos um ponto para o Brasil.


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