Folha de S. Paulo


Conheça o capitalismo consciente

Já imaginou ter um emprego em uma empresa onde você não seja apenas um trabalhador e, sim, um colaborador de um propósito maior? Uma empresa onde o desenvolvimento pessoal e a organização, como um todo, sejam proporcionais? Uma empresa que se preocupe com o bem-estar de toda cadeia, de fornecedores a consumidores? Parece utópico, mas é real. Essas organizações pregam o chamado capitalismo consciente, que visa além do lucro, a criação de valor para os "stakeholders", ou seja, todos os envolvidos.

Os princípios do capitalismo consciente estão baseados em quatro argumentos: o propósito (que visa criar valores que vão além do lucro, como desenvolver e engajar as pessoas), a liderança (que vem para valorizar o que há de melhor nos colaboradores), a cultura (que foca na inovação e no bem-estar social para a produtividade) e a orientação (que mantém todos os envolvidos no negócio informados de seus resultados para que estejam engajados no mesmo objetivo).

Esse capitalismo entra em conflito com os ideais de Milton Friedman. Pertencente à escola de Chicago, Friedman (ganhador do Prêmio Nobel de 1976) afirma que o único objetivo da empresa é dar lucro, que a responsabilidade social é atuar em um segmento que não é seu e que, na maior parte das vezes, a organização possui vários acionistas, o que representa "usar o dinheiro dos outros" para atos que muitas vezes não são do interesse deles. Ele afirma, também, que essas atitudes se assemelham mais com o socialismo do que propriamente com o sistema liberal.

Acreditar nisso é limitar o potencial das empresas. Contrário a esse princípio, Flávio Rocha (CEO da Riachuelo) afirma no prefácio brasileiro do livro "Capitalismo Consciente"': "Acreditar que uma empresa exista somente para lucrar é como afirmar que todo objetivo do ser humano se limita a comer. As pessoas se alimentam para sobreviver e, então, perseguir seus verdadeiros objetivos. O mesmo vale para as empresas: lucrar é preciso, sim, e primordial, mas a empresa responsável e dona de um propósito gera lucro para viver e não vive para gerar lucro". Desmitificando, assim, essa busca obsessiva pelo lucro que foi tomada como verdade por grande parte das organizações do mundo e que essa fórmula já mostra sinais de que não terá tanta força como no passado.

Um grande questionamento é sobre o desempenho dessas organizações. Uma resposta a isso é observar empresas que são grandes referências no mundo: Google, Facebook, Apple, Starbucks e, no Brasil, o Pão de Açúcar, a Riachuelo, a Natura, além de várias outras. Os adeptos a esse capitalismo argumentam que o bem-estar geral converge para um cenário extremamente favorável a longo prazo. Uma pesquisa dos autores John Mackey e Raj Sisodia mostra que entre os anos de 1996 e 2011 na bolsa americana, as empresas "cuidadosas" tiveram desempenho médio 200% mais alto em relação às empresas do índice 500 S&P.

Esse novo modelo tende a se fortalecer por garantir além de uma causa nobre, também uma vantagem competitiva. Assim, diferentemente do capitalismo selvagem, que valoriza a individualidade e espera que cada um aja "melhor que o outro", o capitalismo consciente propõe que todos se unam e estejam engajados para trabalhar por um objetivo em comum.

Em parceria com LUCAS ABREU, que é graduando em administração de empresas pela EAESP/FGV


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