Folha de S. Paulo


Rating sem drama

Sem entrar no mérito dos erros e acertos das agências de rating e, independentemente, do que isso significa, o fato é que o cenário hoje descrito pela analista da S&P, LisaSchineller, já está no radar de analistas independentes há muito tempo.

Não temos risco de calote, mas estamos presos em um equilíbrio ruim caracterizado por: (i) baixo crescimento (2% ao ano); (ii) taxa de juros básica elevada acima de 10% ao ano, (iii) uma conta de subsídios (equalização de juros) que será transformada em divida em algum momento; (iv) um gasto público que, pelas regras atuais, continuará aumentando acima do crescimento do PIB, o que implicará na expansão da carga tributária; (v) incertezas em relação ao comportamento do investimento público e em relação à política econômica, inclusive ajuste dos preços da tarifa de energia e do preço dos combustíveis, empréstimos para bancos públicos, etc.

Tudo isso vem sendo discutido com certa regularidade e consistência por vários analistas econômicos e repassado também para economistas de bancos e consultorias de fora que visitam o Brasil. Significa menos dinheiro externo para financiamento de empresas brasileiras e/ou custo mais elevado.

Por outro lado, o efeito "downgrade" da dívida brasileira, pela S&P, acabou tendo um efeito benéfico hoje, por incrível que pareça! Isso porque sabemos que nos próximos 12 meses, nada mais virá dessa agência e nossa perspectiva de dívida foi alterada para estável. O pregão, logo após a divulgação da nota, mostrou que a Bolsa, o câmbio e os juros já trabalhavam com preços de nota de risco mais baixa. Não houve correção ou ajuste.

Por isso, se olharmos a evolução recente dos CDS (Credit Default Swap -espécie de seguro contratado pelos investidores contra calotes), dá para perceber claramente que a deterioração de nossas contas externas e fiscais já estava precificada nos ativos.

Além disso, nossos indicadores macroeconômicos externos não estão tão ruins assim, quando comparados a emergentes semelhantes.

É claro que o rebaixamento é uma notícia ruim e pode mobilizar o governo a acelerar o passo na direção correta, especialmente na seara fiscal, que preocupa. Mas também não é o fim do mundo em termos de liquidação de ativos no Brasil.

Nosso retorno encontra-se ainda significativamente alto quando ponderado pelo risco que oferecemos em relação aos nossos pares. Taxa Selic acima de 11% e juro longo acima de 13% ainda oferecem yields [rendimentos] imbatíveis se levarmos em conta o risco Brasil.

Post em parceria com a jornalista ADRIANA MATIUZO e o estrategista da Fato Corretora PAULO GALA


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