Folha de S. Paulo


Mulheres e mercado de trabalho: uma discussão pendente

Aproveitando o mês das mulheres como um momento de reconhecer os inúmeros ganhos de inclusão que essas têm protagonizado ao longo da história e também como momento de entender quais caminhos ainda precisamos percorrer para que a inclusão (e não a tolerância) seja realidade para as próximas gerações, compartilhamos aqui um questionamento: por que, afinal, é tão importante continuar trabalhando pela inclusão de mulheres no mercado de trabalho?

As lutas pelos direitos da mulher, e contra as más condições de trabalho, não são recentes.

Em 8 de março de 1911, ou seja, há mais de 100 anos, 90 mil trabalhadoras saíram às ruas na Rússia com esse propósito, reforçando a conscientização sobre o tema que vem sendo discutido desde o fim do século 19 e tomou outra cara após a invenção da pílula anticoncepcional e todas as conquistas do movimento feminista na segunda metade do século 20.

Apesar de tal discussão não ser novidade, analisando a desigualdade de gênero em geral (e não só na política), o Brasil ficou na 85ª posição no ranking mundial feito pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

O ranking do PNUD informa que 50,5% do total de mulheres possuía ao menos a educação secundária entre os anos de 2006 e 2010 no Brasil, enquanto, para os homens, essa porcentagem é de 48,5% do total.

Os dados do IBGE relativos ao total de pessoas com, pelo menos, o nível superior de graduação concluído no Brasil em 2010 demonstram que 58,15% são mulheres (7.829.666 mulheres), e 41,85% são homens (5.634.092).

Voltando para os dados do ranking do PNUD, no que diz respeito à participação no mercado de trabalho brasileiro em 2011, a porcentagem de mulheres é de 59,60%, enquanto a dos homens é de 80,9%.

Os dados do relatório dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio mostram que, globalmente, 40% dos empregos assalariados no mundo, não ligados à agricultura, eram ocupados por mulheres em 2011, uma proporção superior aos 35% observados em 1990, mas ainda baixa, principalmente se considerarmos que em alguns países na África e na Ásia essa porcentagem ainda é menor que 20%.

Então, do que estamos falando mesmo? Que não é novidade que as mulheres querem e podem, por terem habilidades para tal, participar do mercado de trabalho tanto quanto os homens, mas o "poder" apresenta outras nuances, principalmente culturais, as quais fazem com que homens e mulheres ainda acreditem que talvez seja mesmo melhor a mulher não querer subir na carreira, já que uma hora ou outra ela vai se afastar para ter um filho.

Homens e mulheres precisam pensar juntos em novas políticas empresariais para não perder o potencial das profissionais mulheres só porque elas querem ter o direito de escolher ser mães, em algum momento de suas vidas.

Por isso é importante que organizações, empresários, empresárias e órgãos do governo continuem trabalhando para a inclusão de fato das mulheres no mercado de trabalho, não só dando condições para a entrada, mas remodelando o ambiente organizacional para garantir a permanência e ascensão destas mulheres em suas carreiras.

Trabalhar para esta inclusão implica, também, carregar o tanto de coragem necessária à implementação e à consolidação de grandes mudanças - até que essas virem realidade.

Relatório 2013 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio/Samy Dana

Post em parceria com a cientista social Natália Menhem (http://about.me/natalia.menhem/_)


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