Folha de S. Paulo


Valorize o lado direito do seu cérebro

O século 20 foi dominado por pessoas com perfis predominantemente técnicos. Porém, recentemente é possível observar que este perfil de sucesso está em processo de mudança. Criadores, produtores de conhecimento, gente que se especializa em soluções e pessoas com mente diversificada tendem a ser os mais bem-sucedidos do futuro.

Esse é o tema central do livro "Revolução do lado direito do cérebro", de Daniel Pink.

Nosso cérebro é dividido em dois lados. O direito é emocional, generalista, simultâneo. Já o esquerdo é lógico, analítico e detalhista. Para Pink, na era industrial, época das grandes fábricas e das linhas de produção, o valor dado às ciências exatas gerou na sociedade a sensação de que o lado racional do nosso cérebro era mais importante.

O autor aponta um ponto de virada na década de 50, quando o neurocientista Roger Sperry, prêmio Nobel de medicina, realizou experimentos que comprovaram que ambos os hemisférios tinham importâncias similares e que literalmente os humanos tinham duas mentes que atuavam em conjunto.

Na chamada era da informação, na qual o conhecimento se tornou uma grande variável para o sucesso, foi possível ver o aumento gradativo do uso da emoção. O enfoque do gráfico abaixo exemplifica uma mudança de valores em relação ao passado.

Reprodução/Daniel Pink
"Revolução do lado direito do cérebro", de Daniel Pink - Mudança de valores em relação ao passado

Não é à toa que Steve Jobs e Bill Gates travaram um interessante duelo no ramo dos reprodutores de música. Enquanto a Microsoft se preocupava mais com a praticidade e engenharia do produto, a Apple focou o seu projeto numa interface gráfica bela e espirituosa, tornando o iPod um fenômeno de vendas.

Pink chama a era que está surgindo de "conceitual' e sustenta que a grande diferença está na capacidade de inovar, mudar, transformar e não apenas seguir padrões. Um exemplo dessa mudança está na valorização exponencial dos empreendedores por sua capacidade de contribuir para um mundo novo.

Richard Florida, autor dos livros "O voo da classe criativa" e "Who's Your City", acredita também na transição para a era conceitual e que uma nova classe de trabalhadores está surgindo. Conhecida como classe criativa, eles não têm o perfil de seguir planos e sim de criar, adaptar, conceituar novas ideias e têm muito mais autonomia e flexibilidade para fazer isso.

Segundo Richard, eles saíram nos Estados Unidos de 10% da massa trabalhadora no início do século 20 para alcançar a faixa dos 30% no século 21. Essa classe abrange todas as pessoas que utilizam a criatividade em qualquer profissão e atinge desde grafiteiros até CEOs de multinacionais.

Reprodução/Richard Florida

Ainda o autor defende que o lado esquerdo está perdendo importância por três razões: abundância, automação e Ásia.

  • Abundância pelo excesso de produtos/serviços ofertados, ou seja, é preciso diferenciar-se.
  • Já a automação deve-se à substituição da tecnologia pelo homem em trabalhos de inteligência racional, enquanto que, no caso da inteligência emocional, ainda há uma grande distância entre homem e máquina. Por exemplo, é possível que softwares construam outros softwares que possuiriam dificuldades em reconhecer emoções humanas
  • Por fim, a Ásia é um exemplo figurativo que demostra que, muitas vezes, há um meio mais barato e tão eficiente quanto de se fazer algo. Essa ideia tem gerado a migração de setores intelectuais de empresas para mercados mais baratos e de boa qualificação, como Rússia, China e Índia.

Enfim, o mundo está mudando e, com isso, surgem novas formas de ser bem-sucedido. Tudo indica que, para ter as chaves do "reino", é preciso diversificar a mente, enxergar oportunidades, inovar e desenvolver a inteligência emocional. Também é importante que façamos uma reflexão: afinal será que a nossa educação está se preparando para isso?

Post em parceria com Lucas Abreu que é graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas.


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