Folha de S. Paulo


Aumento do teto de financiamento com FGTS

Foi notícia no país, há cinco dias, o anúncio do Banco Central de que as famílias registraram endividamento recorde. As dívidas representam 45,1% da renda anual acumulada das famílias, o maior patamar desde o início da série histórica do BC.

Tais dados são condizentes com a política de crescimento adotada pelo Brasil nos últimos anos, em que o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) não impulsionou o aumento dos investimentos, mas sim o incremento do consumo, fomentado em grade parte pela concessão de crédito aos agentes.

Em um momento de baixo crescimento do PIB e alta da inflação, é ainda mais fácil explicar esses altos níveis de endividamento, mas, nem por isso, eles ficam menos alarmantes.

Para o departamento de economia do Banco Central, a principal razão para o aumento do endividamento familiar consiste no crédito imobiliário.

À luz dessa informação, é de se estranhar a recente decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) de elevar o teto de financiamento imobiliário com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) de R$ 500 mil para R$ 650 mil ou R$ 750 mil --dependendo da região do país--, o que impulsiona ainda mais o crédito habitacional.

Tal resolução era reivindicada desde 2009 pelos setores de construção civil e bancário, mas pode agravar ainda mais a inflação e concentrar as operações em imóveis de valor mais alto, além de, evidentemente, comprometer o orçamento das famílias com endividamento.

Basicamente, uma medida como essa, sob a prerrogativa de "ajudar na realização do sonho da casa própria", atende prioritariamente a interesses eleitoreiros e, ao agravar o quadro de endividamento, compromete o consumo sustentável, os investimentos por parte dessas pessoas e, finalmente, o crescimento do país.


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