Folha de S. Paulo


Chacrinha não morreu

Acervo UH/Folhapress
O apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, ao lado de suas assistentes de palco
O apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, ao lado de suas assistentes de palco

RIO DE JANEIRO - Paralisado por um acidente doméstico, pela primeira vez acompanhei os ensaios dos artistas que hoje se apresentarão no Rock in Rio. Não precisou que alguém jogasse bacalhau para a plateia de jovens, que estão criando uma nova forma de expressar amor e sentimentos correlatos. Algumas letras são maravilhosas, embora monótonas pelo tema e pelo ritmo repetido à exaustão. A alternativa que me ficou foi acompanhar com má vontade as misérias da Lava Jato. Espero que esta nova geração faça um Brasil melhor.

Diretor de uma revista semanal, acompanhei o drama de Cássia Eller. Comprometida com o rock, intérprete de alguns sucessos, ela parecia drogada, procurou uma clínica em Laranjeiras. Seu estado era deplorável. Internada às pressas, teve um infarto e morreu. Um jornalista da época escreveu: "não se sabe ainda se o rock leva às drogas ou se as drogas levam ao rock".

Nem uma coisa nem outra. A geração mais nova dificilmente tem acesso a outros tipos de música que conseguem unir corações, mentes e bundas –algumas boas que nem o Chacrinha, que, com suas chacretes, conseguia empolgar velhos e moços. Daí o apelo ao bacalhau: "Vocês querem bacalhau?" Todos queriam.

O talento e a obstinação de Roberto Medina aproveitaram do Chacrinha uma coleção de bundas e coxas que fizeram história sem necessidade do bacalhau. Pessoalmente, não gosto do bacalhau. Prefiro bundas e coxas, que, por mais que sejam monótonas e repetitivas, com o rock têm a vantagem de parecerem novas e maravilhosas. Desejo sucesso ao Rock in Rio 2017 e mando meu afetuoso abraço ao Roberto Medina. O pai dele criou um dos programas mais memoráveis da TV brasileira: "Noites de Gala".

Depois do "Balança mas não Cai", foi a trilha sonora de toda uma geração.


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