Folha de S. Paulo


O grande deserto

Jim Zuckerman/Divulgação
Afrescos de Michelangelo na capela Sistina, no Vaticano

RIO DE JANEIRO - "O Brasil é um deserto de homens e ideias". A antiga frase de Oswaldo Aranha dos anos 1930 pode ser aplicada à atual crise que o país atravessa. Cassando Temer, promovendo uma nova eleição ou um plebiscito, convocando o presidente da Câmara dos Deputados, não teremos uma solução para nossos problemas. Uns pelos outros, nenhum de nossos líderes, nenhum dos nossos partidos saberão resolver a embrulhada em que nós nos metemos.

Vou citar um exemplo histórico. Julio 2º contratou Michelangelo para pintar a Capela Sistina. Mais ou menos por acaso, o grande papa da Renascença descobriu uma stanze vazia e abandonada no palácio apostólico. Foi procurar Michelangelo, que estava em cima de um andaime pintando a Capela Sistina, uma das obras primas da humanidade.

O papa pediu que ele acabasse logo, porque encontrara uma sala vazia sem nenhuma decoração. Michelangelo estava exausto pelo trabalho que realizava e com raiva de Julio 2º, que se esquecia de pagar o que prometera.

Embaixo dos andaimes havia um grupo de rapazes que ajudavam o pintor a preparar as tintas. Michelangelo apontou os seus auxiliares e pediu ao papa que escolhesse um deles para pintar a esquálida sala vazia.

O papa obedeceu. Perguntou ao grupo de ajudantes do grande pintor se um deles topava pintar a sala que descobrira. Um jovem se apresentou, declarando que podia fazer o que o papa queria. Julio 2º não o conhecia, perguntou-lhe o nome. O rapaz respondeu: Raffaello Sanzio.

O papa aceitou sem conhecer o pretendente. Hoje, quem visita a Capela Sistina,logo em seguida quer admirar a também famosa Stanze di Raffaello, um dos maiores nomes da arte ocidental. A oferta de gênios era imensa naqueles tempos. Infelizmente, não temos nenhum Raffaello dando sopa.


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