RIO DE JANEIRO - O Brasil está atravessando, de maneira um pouco avacalhada, aquele lugar-comum que garante que a história repetida transforma-se numa farsa. Basta uma releitura de Suetônio ("A Vida dos Doze Césares") para notarmos os pontos comuns entre o início da queda do império romano e o fim dos pruridos republicanos do Brasil, em 1889.
Bem verdade que ainda não tivemos a loucura de Nero, Calígula e Tibério. Mesmo sem alimentar o delírio de se transformar num "caput mundi", o Brasil vem tateando em busca de um lugar poderoso entre os países poderosos do mundo.
Aos poucos, a nação está se reduzindo a um colégio interno em que prevalece a delação, a modificação súbita e contraditória dos regulamentos que deviam estabelecer, pelo menos, a ordem e o progresso sonhados pela República.
Se também não temos ainda um Nero, um Calígula e um Tibério, temos alguns pigmeus de baixa extração que atualmente estão bem alojados no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. Falta-nos um Marco Aurélio e um Cícero para contrabalançar a mediocridade política dos nossos dirigentes.
Não temos guerras nem ambições territoriais, mas nos orgulhamos de não termos vulcões, tsunamis e terremotos. E nossos esporádicos tremores de terra nem podem ser medidos em escala Richter.
Ao longo da história, alguns países em situações análogas recorriam aos exércitos, nem todos se comportavam como o Grande Mudo, tomavam o poder e promoviam mortes, torturas e exílios. Em compensação, temos grandes parlapatões que diariamente se acusam uns aos outros para proteger o uso e o abuso da corrupção nacional.
Apesar de tudo, o início da transposição do rio São Francisco não deixa de ser um fio de esperança para um futuro melhor.