Folha de S. Paulo


Nostalgia de 1964

RIO DE JANEIRO - Um novo 1º de abril se aproxima. Felizmente não estamos em 1964, mas no ano da graça de 2015. Que esperamos seja mesmo um ano da graça e não da desgraça. A leitura dos jornais e de outros órgãos da mídia dá a impressão que a desgraça pode voltar. Na base do "de hora em hora Deus piora".

Além da mídia que, todos os dias, de uma forma ou de outra, mostra os erros do governo, erros esses que fazem um delegado de polícia ganhar milhões de dólares, e um juiz usar o carro de um milionário investigado pela Justiça. Em termos de moralidade e economia, temos a esperança (talvez idiota) de que o Brasil seja maior do que o abismo que parece nos esperar.

Nas recentes manifestações que, segundo políticos profissionais, expressam a voz das ruas, apareceram cartazes pedindo a volta dos militares ao poder. Mais de uma geração se passou. E apesar dos documentos e provas de milhares de sacrificados, desaparecidos e mortos pelo regime ditatorial, são muitos os que não se lembram do chumbo que nos imobilizou e envergonhou durante 21 anos.

Não sei explicar a nostalgia que volta e meia é assumida por aqueles que estão dispostos a apelar para soluções de força.

Catão, um tribuno histórico, vendo os inimigos de Roma cercar a então capital do mundo, alertou para o perigo que a ameaçava: "Castra sunt in faucibus Etruriae, non vides?" (em tradução livre: vocês não veem os exércitos que estão cercando a Etrúria?).

A antiga Etrúria ficava onde mais tarde se transformou em Toscana, nos arredores de Roma. E os exércitos eram formados pelos inimigos do Império. As viúvas de 1964 não estão vendo que a debilidade do governo de dona Dilma está armando os quartéis da corrupção e da incompetência.


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