Folha de S. Paulo


Ave, 2015

RIO DE JANEIRO - "Ave, Caesar, morituri te salutant". Era assim que os gladiadores na Roma antiga, ao adentrarem no Maracanã da época, que chamavam de Coliseu, saudavam o imperador Nero: "Salve César, os que vão morrer te saúdam". Para todos os efeitos, Nero foi um dos Césares. Hoje, de dez cachorros que existem no mundo, 7 deles têm o nome de Nero.

Pulando do Coliseu para nossos estádios e admitindo que dona Dilma está longe de ser um Nero que matou cristãos e era piromaníaco (botou fogo em Roma e tocava cítara), podíamos dizer como os gladiadores que entravam em campo para morrer, mas não em relação de nossa presidente: "Ave, 2015, os que vão morrer te saúdam". Espero que todos nós, inclusive o cronista, não sejamos obrigados a saudar o César de plantão.

De minha parte, não aprecio datas festivas, que nas folhinhas dos armazéns antigos vinham com o número em vermelho para lembrar aos usuários que o dia era feriado.

Se não gosto dos "aves" (excetuando pássaros e galinhas), abomino o "próspero" que vem adrede ao Ano-Novo. Na minha combalida idade, se fosse acreditar na saudação, eu deveria ser mais próspero do que o Eike Batista, que certamente não levou a sério os "prósperos" que recebeu ao longo dos anos em que vive na Terra –e que viva muito, tornando-se cada vez mais próspero.

Outro dia, vi um documentário em que um arqueólogo inglês encontrou uma pequena pedra num deserto do Ceilão. Com um canivete, raspou a pedra e constatou que ela tinha 40 mil anos de existência. Só não constatou se, apesar da provecta idade, a pedra também era próspera.

Daqui a 40 mil anos, talvez um novo arqueólogo descubra uma pedra no meu fatigado rim, que nunca soube o que era prosperidade.


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