Folha de S. Paulo


A voz no deserto

RIO DE JANEIRO - É isso aí. Não tenho falta de assunto, pelo contrário, há assunto demais. Fred continuará no Fluminense? Obama dará um jeito na polícia americana, que está matando negros? O papa aceitará o casamento dos homossexuais? Comentar os últimos escândalos do governo de dona Dilma? É preciso reformar a Lei da Anistia, punindo os dois lados da luta, o contrário e o favorável à ditadura? Constatar que estão sendo criadas duas nações, o Brasil bom e o Brasil calhorda, o Brasil do PT e da base aliada e o Brasil do resto? Seria um pleonasmo e certamente uma redundância.

Quando morreu o Cardeal Leme, em 1942, no seminário onde estudei, um professor pediu que os alunos fizessem um soneto sobre o assunto. Apareceram 52 sonetos, inclusive o meu, que começavam com a nefasta informação: "Morreu o cardeal..." –pelo menos, tive o mérito de nunca mais fazer sonetos.

Não creio na punição dos responsáveis. A investigação dependerá do PT, que demitirá o contínuo de dona Graça Foster e dois ou três seguranças que dão serviço em duas ou três refinarias.

Tenho a impressão de que o governo está sofrendo de um alzheimer coletivo. O andar de cima (para usar uma expressão do Elio Gaspari) garante que não sabia de nada a respeito da ladroeira continuada em nossa principal empresa.

Pouco antes de morrer, o Paulo Francis denunciou os escândalos da Petrobras. Com a autoridade de ser um brilhante jornalista, ele dizia que os funcionários do alto escalão estavam com os bolsos cheios. E suas contas na Suíça estavam cada vez mais gordas.

A única medida da estatal foi processar o jornalista. Deprimido, Paulo Francis morreu de repente, sem encontrar ressonância na mídia. FHC e José Serra tentaram demover o presidente da Petrobras, mas não foram atendidos.


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