Folha de S. Paulo


Presidenta contra presidente

RIO DE JANEIRO - "No princípio era o verbo" foi assim que o apóstolo João iniciou o evangelho, num momento em que apareciam as primeiras contestações dos três primeiros relatos canônicos da mensagem cristã. Sempre achei estranho que um humilde pescador do Tiberíades iniciasse o seu depoimento com um introito filosófico que até hoje não foi completamente entendido.

Para todos nós a palavra "verbo" significa que a ação passa do substantivo para os complementos. Daí a importância da palavra "verbo" que significa o trânsito da potência para o ato. Define a frase e o conceito de uma ideia ou mensagem.

Apesar da aparente inadequação deste começo de crônica sobre um assunto completamente diferenciado, a intenção do cronista é mostrar a importância de um verbo para um substantivo ou adjetivo.

Pode parecer um exagero citar a abertura de um texto canônico com uma teimosia de dona Dilma, que no início de seu primeiro mandato, que agora chega ao fim, fazia questão de ser chamada de "presidenta", e fazendo seus aliados e admiradores não usarem a palavra "presidente". Até mesmo parte da mídia comprometida com o governo respeitava a exigência de dona Dilma.

Acontece que gradativamente a forma correta voltou a ser usada até mesmo pelos ministros de Estado que julgavam merecer a confiança e a amizade da chefe do executivo. Evidente que a mídia logo percebeu a impropriedade da grafia preferida por dona Dilma.

Este equívoco inicial demonstra que a presidente da República não está nada segura de suas preferências. Assim, é lícito que encaremos o novo ministério que se anuncia, seja revelador de uma insegurança não apenas ortográfica, mas política e administrativa. Nada tenho contra os ministros que serão anunciados. Mas desconfio das escolhas da presidente da República.


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