Folha de S. Paulo


Aqui del-Rei!

RIO DE JANEIRO - Já foi dito e repetido que o noticiário político pouco a pouco vai invadindo o noticiário policial e vice-versa. Qualquer autoridade, de qualquer escalão –do guarda de trânsito à presidente da República–, também pouco a pouco vai precisar de um atestado de bons antecedentes, disfarçado na metáfora das mãos limpas.

O sujeito muitas vezes está quieto no seu canto, tratando de sua vida, verificando o boletim escolar de seu filho, que levou escrachante bomba no ano anterior, examinando a fatura do cartão de crédito da esposa, que pagou o motel porque o parceiro estava desprevenido, quando, de repente, toma conhecimento nas colunas dos jornalistas investigativos bem informados que seu nome está numa lista de possíveis ministros ou presidentes de alguma estatal suculenta.

Pronto. Está armada a conspiração, da qual ele próprio participa com entusiasmo e com o saldo de uma problemática poupança. Além desses abrolhos inevitáveis, o sujeito é obrigado a provar que tem mãos limpas, apesar das acusações e suspeitas dos adversários interessados na mesma função.

O exemplo mais recente e mais estrondoso pegou no próprio pé a presidente, que pronto ameaçou botar na cadeia toda a Redação de uma revista semanal. Como ela conseguiu se eleger, a ameaça ficou no vazio, embora tenha manifestado que não tolerará qualquer insinuação de possível cumplicidade no escândalo tamanho família da Petrobras.

E o seu segundo governo nem ainda começou. Os milhares de candidatos que desejam participar do segundo tempo de dona Dilma precisam de água e sabão para garantir as mãos limpas. Por ora, a impressão dos mal informados –como o cronista –garante que ninguém está plenamente satisfeito com a prorrogação, legítima mas enigmática, de uma eleição marcada pela baixaria nunca vista numa campanha eleitoral.


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