Folha de S. Paulo


Candidatos e torresmos

RIO DE JANEIRO - Não entendo a razão da maioria dos candidatos de nos atropelarem com suas comitivas. Por Júpiter! Não sabemos direito quem está com ou contra quem.

No fundo, essa turma que compõe as comitivas dos que vão ganhar (por definição, ninguém é besta de engrossar a comitiva do candidato que vai perder), é composta por uma estranhíssima fauna de políticos, jornalistas mais ou menos desativados, publicitários à procura de verbas, conselheiros em potencial e desempregados crônicos que procuram se arrumar. O esquema é esse mesmo e tanto serve para a turma do governo como da oposição.

A principal preocupação dessa gente é ser vista com o candidato e vender uma intimidade que não existe. Na verdade, nem mesmo o candidato sabe ao certo o que determinados sujeitos estão fazendo ali, em sua companhia. Não os expulsam porque, nunca se sabe, de uma hora para outra qualquer um, o mais imprestável dos seres humanos, pode se revelar útil.

Lembro um caso. Havia um empertigado senhor que aparecia sempre junto ao candidato. Ninguém na comitiva o conhecia, mas em toda aparição pública ou privada do candidato, ele comparece com seu terno muito bem cortado –enfim uma figura decorativa e inofensiva.

No início, pensavam que era um segurança bem-nascido, depois um publicitário que fazia relatórios e pesquisas. Permanecia obscuro seu mister e controvertida a sua serventia. Até que numa feijoada de campanha, surgiu um problema. O candidato apreciava torresmos, e torresmos havia, mas acabaram.

O fato não passou despercebido ao assessor de coisa nenhuma, que rapidamente providenciou mais torresmos. E os levou, com ar vitorioso, ao candidato. Nem Aníbal, nas delícias de Cápua, marchou com tanto garbo. Aproximou-se e dele recebeu a paga: "Muito obrigado, maître".


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