Folha de S. Paulo


O funeral de César

RIO DE JANEIRO - Todos são homens honrados ("All honourable men"). Na cena do funeral de César, nos idos de março, Shakespeare fez Marco Antônio pronunciar o famoso discurso --obra-prima da literatura universal. O mesmo se poderia dizer da sessão do STF que terminou empatada a respeito dos embargos infringentes.

Como leigo --e, mais do que leigo, ignorante na maioria dos atos e fatos da sociedade humana--, não pretendo entrar no mérito da questão, dou de barato e por justiça que todos os ministros daquela corte são homens doutos em lei e, sobretudo, honrados.

O que me chamou a atenção é que nenhum dos magistrados se declarou impedido de julgar uma questão que já tinha sido julgada por um plenário anterior. Afinal, os dois novos ministros, homens acima de qualquer suspeita, indicados recentemente por dona Dilma, nada perderiam em talento e formosura se se declarassem impedidos de apreciar a decisão de um colegiado do qual não participaram nem tiveram tempo para destrinchar os complicados labirintos que foram investigados exaustivamente pelos demais ministros.

Não insinuo caráter político na decisão que tomaram. Mas os votos que deram não deixaram de ser uma emenda no soneto que não fizeram.

Elogiável a atitude do ministro que declarou votar de acordo com a sua consciência --acredito que todos fizeram o mesmo. Mas o desdém pela opinião pública, tão explicitamente confessada, lembrou-me aquela passagem do Evangelho em que Jesus Cristo perguntou aos apóstolos o que a opinião pública daquele tempo pensava dele mesmo.

Foram citados os grandes profetas do Velho Testamento, somente Pedro acertou na mega-sena e tornou-se a pedra sobre a qual a nova religião seria fundada. A opinião pública, certa ou errada, é fator que produz história.


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